Agência Fapesp
Pesquisadores da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo conseguem regenerar ossos de ratos com bioimplantação
Um polímero combinado com células-tronco foi implantado por pesquisadores em defeitos ósseos no crânio de ratos. Os animais tinham perfurações na calota craniana de cerca de 5 milímetros de diâmetro, dimensão considerada crítica, uma vez que está além da capacidade de regeneração natural do organismo.
O resultado da bioimplantação foi observado em duas, quatro e oito semanas. Em duas semanas foi observada diferença na quantidade de tecido ósseo e de vasos sanguíneos nos três tipos de materiais utilizados - com diferença no tamanho dos poros.
Os cientistas observaram também, em modelo de cultura de células, que o polímero permitia a proliferação e a diferenciação das células em osteoblastos, que produzem tecido ósseo.
A pesquisa foi coordenada pelo professor Adalberto Luiz Rosa em colaboração com os professores Márcio Beloti e Paulo Tambasco de Oliveira na Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (FORP) da Universidade de São Paulo (USP) e teve a participação da estudante Luciana Sicchieri, bolsista de Mestrado da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Rosa coordenou o projeto Engenharia de tecido ósseo: avaliações in vitro e in vivo do biomaterial hibrido fosfato de cálcio/ácido poli-láctico-co-glicólico de células osteoblásticas derivadas de células-tronco, apoiado pela Fapesp na modalidade Auxílio à Pesquisa - Regular.
Os pesquisadores do Laboratório de Cultura de Células da FORP também integram o grupo de pesquisa Biomateriais para Aplicação em Tecido Ósseo, apoiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
A engenharia de tecido ósseo é uma área relativamente nova do conhecimento, surgida no fim da década de 1980. É um ramo multidisciplinar, pois associa as engenharias às ciências da vida para criar substitutos biológicos que melhorem ou mantenham a qualidade dos tecidos originais, explicou Rosa.
O grupo utilizou um polímero revestido de fosfato de cálcio - um biomaterial poroso desenvolvido por cientistas canadenses - para fazer o implante nos ratos. A diferença do trabalho brasileiro foi ter associado células-tronco a esse biomaterial.
Inicialmente, foram retiradas células da medula óssea dos animais. Depois, foi feita uma expansão para que elas se multiplicassem. Desse grupo foram selecionadas células-tronco mesenquimais, que possuem a capacidade de se transformar em outros tipos de células.
As células-tronco foram então combinadas ao polímero canadense por meio de um processo de centrifugação. Esse composto foi implantado nos ratos, cada um recebendo o material associado a células de sua própria medula. A mesma experiência foi repetida com células-tronco diferenciadas em osteoblastos e os resultados também foram positivos.
Com base nos resultados da pesquisa, o grupo concluiu que biomateriais implantados com poros maiores são mais adequados para experimentos de engenharia de tecido ósseo. O sucesso abre perspectivas para aplicações clínicas dessa técnica, mas o coordenador da pesquisa destaca que isso não ocorrerá tão cedo.
Imaginamos poder aplicar essa técnica em reconstruções de maxilares e em cirurgias que exijam a remoção de tecido ósseo, por exemplo. Mas a aplicação em humanos é um cenário que consideramos para um prazo ainda extenso. Temos ainda um longo caminho até lá, disse.
(Agência Fapesp, 8/12)