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Brasil Econômico

Plástico verde da Braskem deixa de ser só promessa

Publicado em 03 dezembro 2009

Os plásticos derivados da cana-de-açúcar, em substituição aos combustíveis fósseis, prometem deixar a fase de pesquisa e experimentação para ganhar escala industrial. O apelo do marketing e a preocupação com o meio ambiente influenciam o avanço desse mercado. Segundo expectativa da Braskem, fabricante de um tipo de polietileno, o polímero mais usado no mundo, feito de etanol, a demanda pode suplantar a marca de 200 mil toneladas por ano, prevista para a fábrica que deverá ser inaugurada no último trimestre de 2010 em Triunfo, no Rio Grande do Sul.

"Existe uma tese em que eu acredito: vamos deixar o petróleo para aplicações em que só esse tipo de matéria-prima pode ser utilizada e tudo o mais que puder ser feito de outra forma com vantagens ambientais deve ser experimentado", afirma Leonora Novaes, gerente comercial do projeto e entusiasta do plástico verde, como foi apelidado o material.

Resultado de pesquisas realizadas pela Braskem desde 2006 e de um investimento de US$ 5 milhões, o polietileno verde está sendo usado em escala piloto em peças do jogo Banco Imobiliário Sustentável da fabricante de brinquedos Estrela e por empresas de asiáticas, como a grife de cosméticos Shiseido e a Acinplas, que utilizará a usina na fabricação de filmes.

Outra grande empresa, a Tetra Pak, sacramentou um acordo para utilizar o polietileno da Braskem na produção de tampinhas para suas embalagens] cartonadas assépticas a partir de 2011. A demanda tem motivação ambiental: para cada quilo de plástico produzido, são capturados 2,5 quilos de dióxido de carbono. Isso porque a matéria-prima que é o etanol de cana reduz as emissões de gases do efeito estufa em mais de 90%, na comparação com os derivados de petróleo.

"Os plásticos verdes, assim chamados porque se originam de matéria-prima renovável, são estratégicos para as empresas", considera a bioquímica Maria Filomena de Andrade Rodrigues, bioquímica do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) de São Paulo. Ela participou do projeto do biopolímero degradável que deu origem à marca biocycle da PHB Industrial, associação entre grupos usineiros do estado de São Paulo.

A fábrica da empresa, em Serrana, no interior paulista, produz outro polímero (polipropileno), que resulta da ação de bactérias a partir da sacarose de cana-de-açúcar, que some em questão de semanas nos aterros sanitários. No seu processo de produção, o bagaço da cana é utilizado como fonte de energia elétrica e vapor. A principal aplicação do biocyclesão os plásticos de uso rápido por ser biodegradável, além de artefatos médicos de uso humano e veterinário.

"Já é possível desenvolver vários tipos de polímeros, a questão é só o custo", afirma Maria Filomena, do IPT. "Alguns são biodegradáveis, outros não." Para a pesquisadora, nesse último caso, o plástico verde deve ser complementado com alternativas mais eficientes de reciclagem e destinação final dos resíduos, ou então, deixará de ser uma alternativa adequada em tempos de preocupação ambiental. A Braskem, em parceria com a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo), investiu R$ 50 milhões no desenvolvimento de pesquisas nos próximos cinco anos utilizando insumos derivados de etanol e de outros biocombustíveis.