Notícia

Correio do Estado (Campo Grande, MS)

Plantio da alface é ameaçado por uma nova doença

Publicado em 30 junho 2003

A alface, principal hortaliça folhosa cultivada no Brasil, movimenta R$ 2 bilhões/ano e ocupa uma área de aproximadamente 31 mil ha, com a geração de cinco empregos diretos por hectare. A atividade está em risco em função da nova doença detectada no País e confirmada pela pesquisa da Esalq/USP, financiada pela Fapesp. Os produtores estão sendo orientados sobre o problema pela Seminis, empresa de sementes de hortaliças, que durante a Hortitec (realizada em Holambra na semana passada) manteve um plantão de informações em seu estande. RAÍZES APODRECEM Uma nova doença está se expandindo rapidamente nas principais regiões produtoras de alface do Estado de São Paulo, tanto em campo como em sistemas hidropônicos. Conhecida como murchadeira da alface, ela é provocada por um fungo e causa podridão das raízes, reduzindo o tamanho das plantas e conseqüentemente seu murchamento. As principais variedades de alface tipo lisa e americana cultivadas no Brasil são suscetíveis, explica o pesquisador Fernando César Sala, da Esalq / USP, que junto com outros acadêmicos desenvolveu uma pesquisa em que avaliou a manifestação da doença e realizou testes de resistência. Ele afirma que "o método mais eficaz, prático e barato para o controle da murchadeira é o emprego de cultivares resistentes ao fungo". A pesquisa realizada em campo revelou que as alfaces raider (do tipo americana), letícia (lisa) - ambas da Seminis - e as alfaces yuri e PRS 1115 (da Horticeres) mostraram-se imunes ao problema. DISSEMINAÇÃO A murchadeira da alface (ou podridão negra das raízes) é causada pelo fungo Thielaviopsis basicola e foi constatada no Brasil em 1999, no Rio de Janeiro, sendo freqüentemente confundida com distúrbios fisiológicos. As plantas atacadas pelo fungo apresentam inicialmente manchas escuras nas raízes e com o avanço da doença, principalmente as raízes laterais vão se tornando completamente apodrecidas. O patógeno produz esporos (espécie de sementes do fungo) que podem ser transportados pelo vento ou permanecer dormente no solo de três a cinco anos. Normalmente, os esporos são disseminados através de mudas e solo contaminados, máquinas e ferramentas utilizadas nas práticas culturais e água de irrigação ou drenagem. Segundo o pesquisador, existem fortes suspeitas de que o patógeno tenha sido introduzido no Brasil através de turfa (composto rico em matéria orgânica) contaminada e usada na formulação de substratos de mudas. CONTROLE Além da utilização de espécies resistentes, Fernando Sala recomenda a adoção de práticas de manejo adequadas à cultura, como uso de mudas sadias, substrato livre do patógeno, irrigação e adubação apropriadas. Além disso, rotação de culturas e solarização tanto do solo como do substrato são alternativas válidas para minimizar as perdas pela murchadeira da alface. Como apresenta alto valor econômico e possibilidade de plantio durante o ano todo, o cultivo da alface é feito de maneira intensiva, em sistema de monocultura, colhendo-se na mesma área até cinco safras no ano. Tradicionalmente, o alfacicultor não usa rotação de culturas e, quando é feita, são plantadas outras folhosas como almeirão, rúcula e chicória, que geralmente são suscetíveis às mesmas doenças radiculares que a alface.