Uma das plantas medicinais mais famosas da medicina popular se transformou em um medicamento tópico que tem ajudado a aliviar as dores de milhares de brasileiros: o Acheflan. Coordenado pelo professor João Batista Calixto, o trabalho foi reconhecido com o terceiro lugar no Prêmio Péter Murányi 2019, edição Ciência & Tecnolologia. O medicamento é um dos mais prescritos entre os anti-inflamatórios tópicos.
Iniciado em 1998, o estudo selecionou, em sua etapa inicial, 10 plantas brasileiras com propriedades medicinais. Dentre elas, a Cordia verbenacea (erva baleeira) foi escolhida como objeto de análise, ao chamar a atenção dos pesquisadores por suas ações anti-inflamatórias e analgésicas.
Durante o período de testes, realizaram-se diversos estudos clínicos em vários centros de pesquisa e hospitais localizados principalmente na cidade de São Paulo. O medicamento foi registrado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) em 2004 e teve sua comercialização liberada em junho de 2005.
Segundo a presidente da Fundação Péter Murányi, Vera Murányi Kiss, entidade organizadora da premiação, o resultado da votação mostra a importância de nossa flora para a melhoria da qualidade da vida.
“Essa edição mostrou o quanto nossa flora tem um papel importante na elaboração de soluções acessíveis no combate a enfermidades comuns. A tecnologia encontrou abrigo na sabedoria popular, e isso só foi possível com o trabalho de nossos pesquisadores”, enfatiza.
Os resultados obtidos com o trabalho dos pesquisadores permitiram, também, o aperfeiçoamento do produto, que ganhou uma nova versão, também tópica, e eficácia potencializada. Durante os testes, o medicamento teve rápida absorção e alivio das dores e inflamações.
“O importante aqui é que esse é um projeto inovador e desenvolvido totalmente no Brasil, que só foi possível com o trabalho em conjunto desses pesquisadores, clínicos e pré-clínicos. Hoje, esse medicamento é um marco de inovação na indústria farmacêutica brasileira”, relata Calixto. O período entre as pesquisas e a conclusão do trabalho durou sete anos.
Por dentro do Prêmio Péter Murányi 2019
Para esta edição, o Prêmio Péter Murányi recebeu 140 trabalhos, vindos de toda a América Latina. Eleito vencedor, o aplicativo “SOS Chuva” permite aos usuários acessar dados de satélites meteorológicos que cobrem todo o país e saber, com antecedência, quando e onde ocorrerão eventos climáticos extremos.
O trabalho foi selecionado por um júri composto por representantes de entidades nacionais e internacionais ligadas à área de ciência e tecnologia, integrantes de universidades federais, estaduais e privadas, personalidades de renome e membros da sociedade.
Em segundo lugar foi selecionado o estudo de melhoramento da aveia. Coordenado por acadêmicos da região sul do país, a pesquisa permitiu o plantio do cereal em terrenos onde antes a cultura encontrava resistências naturais, permitindo que o Brasil se tornasse autossuficiente em seu cultivo”.
O Prêmio Péter Murányi é realizado anualmente, com temas que se alternam a cada edição: Saúde, Ciência & Tecnologia, Alimentação e Educação. Cada tema é revisitado a cada quatro anos. O valor total é de R$ 250 mil, divididos entre o vencedor (R$ 200 mil), o segundo colocado (R$ 30 mil) e o terceiro (R$ 20 mil). A entrega ocorrerá em abril, durante a festa de premiação.
A premiação conta com o apoio das seguintes entidades: ABC (Academia Brasileira de Ciências), Aconbras (Associação dos Cônsules no Brasil); Aciesp (Academia de Ciências do Estado de São Paulo); Anpei (Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras); Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior); CIEE (Centro de Integração Empresa-Escola); CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico); Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo); e SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência).