Ambiente estuarino descampado armazena nutrientes e ajuda no combate ao efeito estufa
Quem observa a floresta de mangue em um passeio de barco talvez saiba que o ecossistema é um berçário da vida aquática. Menos conhecida é a paisagem que às vezes se segue, dezenas de metros adiante, onde a floresta vicejante dá lugar a um campo aberto de chão rachado, como o do sertão, em períodos mais secos. Entre poucas plantas rasteiras, ainda mais esparsos são arbustos resistentes à alta salinidade da água do solo ? até cinco vezes maior que a do mar, excessivo até para as árvores do manguezal. Mesmo adaptadas ao sal, ali elas não vingam ou desenvolvem porte anão. Chamada de planície hipersalina pelos ecólogos e salgado ou apicum (brejo de água salgada, em tupi-guarani) pelos moradores locais, essa face pouco conhecida do manguezal absorve no solo quantidade significativa de gás carbônico da atmosfera e o estoca sob a forma de biomassa, segundo estudo publicado na revista Biogeosciences em abril.
“O solo não é morto, mas revestido por um tapete vivo denominado microfitobentos, composto de algas, fungos, bactérias, pequenos insetos e crustáceos”, diz o ecólogo Humberto Marotta, da Universidade Federal Fluminense (UFF), coordenador do Laboratório de Ecossistemas e Mudanças Globais (LEMG-UFF) e da Unidade Multiusuário de Gases de Efeito Estufa e Combustíveis Voláteis (GAS-UFF), em Niterói, Rio de Janeiro, um dos autores do artigo. São as cianobactérias, também chamadas de algas azuis, as responsáveis pela maior parte da absorção de carbono. Trata-se de microrganismos fotossintetizantes que, como as plantas, produzem seu próprio alimento a partir do gás carbônico que absorvem e da energia do sol.
Veja o texto na íntegra: Revista Pesquisa Fapesp