Notícia

Ao Mestre com Carinho

Planejamento de qualidade

Publicado em 13 abril 2009

Por Thiago Romero

Agência Fapesp

O que nasce primeiro nas cidades brasileiras: os bairros ou as escolas? Segundo Ismael Bravo, pesquisador do Laboratório de Gestão Educacional (Lage) da Unicamp, são os bairros, apesar de se tratar de um equívoco.

"Normalmente os bairros, sobretudos os menos favorecidos, são criados primeiro e, depois de alguns anos, entram em cena os aparelhos sociais, como instituições de ensino, postos de saúde, saneamento básico e transporte. Mas esse é um viés equivocado do planejamento urbano no Brasil".

"Com isso, acaba sobrando para a escola a tarefa de entender as características da sociedade que está precisando de seu ensino, o que também nem sempre ocorre", afirmou o pesquisador.

Tendo como estudo de caso 20 escolas da região metropolitana de Campinas, a pesquisa faz uma análise demográfica e de geografia política dos movimentos da população no território, de modo a chamar a atenção dos gestores públicos, do ponto de vista do planejamento da educação, para a diversidade das características e necessidades peculiares das populações urbanas e rurais.

"Se não levarmos em conta a diversidade em que determinada escola está inserida na hora de avaliar sua produtividade, por exemplo, esse tipo de trabalho pode cair por terra. Atualmente, as pesquisas de produtividade nas escolas públicas brasileiras nem sempre levam em conta o perfil social, cultural e econômico dos pais e alunos que freqüentam as unidades escolares", disse Bravo.

Segundo ele, na maior parte das instituições de ensino públicas no país, o perfil do aluno, que deve constar em seu projeto pedagógico, "é traçado apenas pela visão do cotidiano escolar de professores e diretores, que, invariavelmente, não residem na localidade onde a escola está inserida."

E quando a escola vai ao encontro das necessidades dos alunos e responsáveis, ela passaria a fazer sentido para a comunidade pelo fato de poder elaborar seu projeto pedagógico com base em uma realidade específica, aumentando as possibilidades de reduzir índices de violência e de aproximação dos alunos das aulas.

"Desse modo, as abordagens pedagógicas em sala de aula passam a ter relação direta com o cotidiano dos alunos, que deve ser considerado, também, pelo planejamento da educação pública no Brasil, seja na hora de criar novas escolas ou na destinação dos recursos", disse.

Outro problema abordado por Ismael Bravo é que, uma vez que a legislação brasileira classifica as escolas como rurais e urbanas, centenas delas perderam suas identidades, não sendo nem urbanas, nem rurais.

"Com o crescimento das metrópoles, nas últimas décadas surgiram áreas de transição - um meio físico que se caracteriza pela heterogeneidade de sua constituição por ter perdido características homogêneas da cidade ou do campo", explicou.

De acordo com o pesquisador, esse processo de ocupação heterogênea, além do fato de que nichos de atividades rurais surgem nas metrópoles e vice-versa, faz com que os alunos de uma determinada escola nem sempre sejam residentes no município onde ela está instalada fisicamente.

"Com isso, os recursos para a manutenção da escola, que vêm da prefeitura do município, não atendem plenamente à população da cidade. Um exemplo que analisei foi o de uma escola considerada rural, localizada em Valinhos, mas que tem 60% dos alunos residindo na cidade de Campinas. Essa escola acaba se descaracterizando internamente por atender a uma população que não é de área rural", explicou.