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Pipoca de micro-ondas pode causar alterações cerebrais (78 notícias)

Publicado em 16 de junho de 2023

Pesquisadores do Instituto de Química de São Carlos (IQSC) da USP conduziram um estudo que revela novas evidências indicando que o diacetil, um composto presente em certos alimentos, como algumas marcas de pipoca de micro-ondas, e responsável por conferir aroma e sabor amanteigado, pode ser prejudicial à saúde quando consumido em excesso e por um longo período de tempo.

No estudo, os cientistas administraram o composto a ratos durante 90 dias consecutivos e observaram a presença de proteínas associadas ao Alzheimer no cérebro desses animais. Esses achados sugerem a possibilidade de que o diacetil possa ter efeitos prejudiciais, pelo menos em ratos, levantando a necessidade de investigações adicionais para compreender melhor o impacto potencial do composto na saúde humana.

“Das 48 proteínas cerebrais que avaliamos após a exposição dos animais ao produto, 46 sofreram algum tipo de desregulação ou modificação em sua estrutura por conta do consumo prolongado do composto. Durante as análises, nós identificamos o aumento da concentração de proteínas beta-amiloides”, explica Lucas Ximenes, doutorando do IQSC e autor da pesquisa.

Apesar de ainda não termos um claro entendimento dos mecanismos envolvidos nessa doença, é comum encontrar essas proteínas em pacientes com Alzheimer.

Para avançar na pesquisa, os pesquisadores do IQSC planejam realizar novos testes, envolvendo um maior número de animais, a fim de aprofundar a compreensão desses resultados preliminares.

“Claro que comer esporadicamente certos alimentos não tem problema, e alguns prazeres em excesso podem fazer mal. Mas por mais que a gente coma o produto, nós temos muito menos contato com o diacetil do que os trabalhadores que lidam ou até inalam diariamente o composto nas fábricas”, exemplifica.

Análises

O cientista relatou que o diacetil afetou tanto os cérebros dos ratos machos quanto dos ratos fêmeas, sendo observado um comprometimento maior em certas regiões do órgão, como o hipotálamo.

“Até então, não se sabia exatamente quais os possíveis efeitos e modificações que o composto poderia gerar no cérebro de organismos vivos, existem poucos estudos nesse sentido, ainda é um universo pouco explorado. Além disso, alguns trabalhos utilizam quantidades absurdas do composto, até 50 vezes maiores que a nossa, o que facilita o aparecimento de problemas. O que nós fizemos foi utilizar concentrações de diacetil mais próximas do que seria um consumo diário normal”, revela Ximenes, que é orientado pelo professor Emanuel Carrilho, do IQSC, e co-orientado pelo professor Nilson Assunção, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)

Os pesquisadores avaliaram os cérebros dos ratos utilizando dois equipamentos. Um deles é o espectrômetro de massas, que realiza leituras e gera mapas de calor dos órgãos, fornecendo uma espécie de impressão digital dos cérebros. Isso permitiu observar a distribuição das proteínas e do diacetil em diferentes regiões.

Em uma etapa subsequente, utilizaram um cromatógrafo para determinar se essas proteínas sofreram alterações, como aumento na concentração ou mudanças estruturais preocupantes. O estudo foi conduzido em um total de 12 ratos, sendo metade do grupo controle (que recebeu placebo) e a outra metade ingeriu o diacetil.

O diacetil é amplamente utilizado na indústria, incluindo o setor alimentício, onde é empregado como conservante e flavorizante, conferindo sabor e aroma aos alimentos. É encontrado naturalmente em produtos como café, cerveja, chocolate, leite e iogurte, e é utilizado em concentrações mais elevadas na pipoca de micro-ondas como aditivo.

Embora o consumo do diacetil seja aprovado pelas agências reguladoras, a exposição prolongada a esse composto pode ser prejudicial à saúde. Devido à sua presença no cotidiano da população, diversos estudos buscam compreender a influência desse composto em organismos vivos e como ele pode afetar as funções biológicas.

O estudo recebeu apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).