Redação*
Combustíveis produzidos a partir de fontes renováveis, como o biodiesel, têm ganhado espaço na matriz energética brasileira. Prova disso é, não só a grande demanda por etanol, mas também a iniciativa de companhias aéreas e fabricantes de aviões, que já estão estudando as potencialidades do pinhão manso como matéria-prima para a produção de biocombustível para a aviação.
A boa notícia é que um estudo coordenado por Kil Jin Park, do Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL/FEAGRI/UNICAMP), intitulado de Aproveitamento integral da semente do pinhão-manso para a obtenção de biodiesel e apoiado pela FAPESP, comprova a eficácia do pinhão-manso na produção de biocombustíveis.
A pesquisa teve por objetivo a obtenção de óleo vegetal por prensagem e a extração por solvente, além do estudo da transesterificação (separação da glicerina) desses óleos por meio da utilização de alcoóis, como etanol e metanol, sendo que este último foi considerado ideal em termos de rendimento.
O trabalho mostra que o processamento integral do pinhão-manso permite a obtenção de matérias-primas de qualidade, com altos índices de aproveitamento, contribuindo para viabilizar a produção de combustível em larga escala.
Um dos maiores desafios do setor é desenvolver processos que viabilizem o uso dessas matérias-primas. Para isso, é imprescindível que a produção seja feita em larga escala, a fim de baratear os custos de produção e garantir as sementes durante boa parte do ano.
Assim, o estudo concluiu que por ser uma árvore bastante abundante no Brasil, o pinhão-manso é uma excelente opção de matéria renovável. E não apenas para a produção de biocombustível, mas também como ração animal, visto que dele podem ser aproveitados, além do óleo, também a torta e o farelo.
De acordo com o pesquisador, a cadeia produtiva de biodiesel é composta em torno de 85% pelo óleo de soja. A introdução do óleo de pinhão-manso poderia, portanto, ajudar a evitar possíveis desabastecimentos, visto que a soja é primordialmente direcionada para fins alimentícios.
"O óleo das sementes do pinhão-manso é facilmente extraído por prensagem contínua e pode ser convertido em biodiesel por meio de transesterificação, inclusive pela rota etílica. Existe a possibilidade também da extração do óleo por solvente, com maior rendimento e consequente produção de farelo", afirma.
Além de possuir alto teor de óleo, o pinhão-manso torna-se bastante nutritivo após passar por tratamento das sementes, para isentá-las de compostos tóxicos. Esse processo possibilita seu uso também como ração animal. O elevado rendimento das sementes e a perenidade da planta, que não necessita de renovação anual de plantio, também são fatores que favorecem seu cultivo.
Além disso, em sua fase inicial, o espaçamento entre as plantas permite a intercalação com outras culturas, o que permite diversificar a produção na mesma área. Para o pesquisador, outra vantagem é que a produção do pinhão-manso poderia se estender pelas regiões Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil, devido à sua facilidade de adaptação a diversos tipos de solos e climas.
Pesquisa ampliada
Segundo Park, outra vertente possível para aprimorar produtos e processos relacionados ao pinhão-manso são as pesquisas relacionadas à genética da planta, que poderão resultar em variedades mais resistentes a pragas, que produzam mais óleo e sejam isentas de compostos tóxicos. "Variedades com essas características já estão sendo produzidas atualmente no México", diz.
Em sua pesquisa, ele também fez a caracterização dos produtos obtidos, e seu reaproveitamento para tornar possível sua exploração econômica, pois o aproveitamento integral do pinhão-manso pode aumentar significativamente seu potencial de uso, em diferentes segmentos da indústria.
Com informações da Agência FAPESP