Pesquisadores da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) estão testando um medicamento para tratar, ao mesmo tempo, diabete e obesidade. Isso só foi possível após a descoberta que associa o Hormônio Concentrador de Melanina (MCH) também ao diabete. O remédio, que inibe a produção do MCH, mostrou-se eficaz nos testes com ratos e camundongos.
Os estudos começaram há cerca de quatro anos e a estimativa é de que a nova droga, em fase de patente, possa ser comercializada em 10 anos.
Segundo o professor da FCM e chefe do Laboratório de Sinalização Celular, Licio Velloso, a associação do hormônio com a obesidade já é conhecida, mas não havia relação do MCH com diabete. O resultado da pesquisa foi publicado em um artigo científico na revista norte-americana "Endocrinology", da Endocrine Society. Durante testes com o medicamento, os pesquisadores da Unicamp descobriram que as cobaias também reagiam melhor à ação da insulina.
Segundo Velloso, o anti-MCH testado na Unicamp reduz em 20% o peso dos animais e aumenta a ação da insulina em 30%. A produção de MCH no hipotálamo estimula uma parte do sistema nervoso, chamado sistema nervoso autônomo simpático, que controla a produção de calor por tecidos periféricos, como músculos e tecido adiposo. Quanto maior a quantidade de MCH no hipotálamo, menor o gasto com produção de calor. Com isso o indivíduo economiza energia, armazenada na forma de gordura.
O professor explicou que o MCH controla a produção de insulina pela ilhotas pancreáticas e a ação dela em tecidos como músculo, tecido adiposo e fígado, por meio dos estímulos neurais. A insulina, por sua vez, controla a quantidade de glicose no sangue e age também no hipotálamo, produzindo a sensação de saciedade. "Complexas conexões participam de um ciclo que controla a fome, o gasto de energia, a produção e a ação da insulina em múltiplos órgãos", disse Velloso. De acordo com ele, o MCH está relacionado ao diabete tipo 2.
O professor lembrou que 9% da população brasileira têm diabete, 90% do tipo 2. "A resistência à ação da insulina em outras regiões do corpo favorece o desenvolvimento de diabete, enquanto a resistência à insulina no cérebro favorece o desenvolvimento de obesidade", afirmou o pesquisador.
Testes - Nos camundongos e ratos, os pesquisadores aplicam uma dose injetável da droga anti-MCH por dia. "Para os humanos é preciso desenvolver uma apresentação que permita uso via oral. Acreditamos que uma a duas doses ao dia devem ser suficientes também em humanos", disse o professor Licio Velloso. Ele disse não haver previsão de quando começam os testes em humanos. De acordo com o professor, há uma tendência a se desenvolver medicamentos associados que possam ser usados no tratamento de doenças crônicas, como é o caso do diabete e da obesidade, que não têm cura, mas podem ser controlados. As pesquisas com a droga anti-MCH são financiadas pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). O assunto foi tema de tese do aluno Márcio Pereira da Silva.
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O Imparcial (Presidente Prudente, SP)