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Pesquisadores testam medicamento para tratar diabete (1 notícias)

Publicado em 15 de junho de 2004

Pesquisadores da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) estão testando um medicamento para tratar, ao mesmo tempo, diabete e obesidade. Isso só foi possível após a descoberta que associa o Hormônio Concentrador de Melanina (MCH) também ao diabete. O remédio, que inibe a produção do MCH, mostrou-se eficaz nos testes com ratos e camundongos. Os estudos começaram há cerca de quatro anos e a estimativa é de que a nova droga, em fase de patente, possa ser comercializada em 10 anos. Segundo o professor da FCM e chefe do Laboratório de Sinalização Celular, Licio Velloso, a associação do hormônio com a obesidade já é conhecida, mas não havia relação do MCH com diabete. O resultado da pesquisa foi publicado em um artigo científico na revista norte-americana "Endocrinology", da Endocrine Society. Durante testes com o medicamento, os pesquisadores da Unicamp descobriram que as cobaias também reagiam melhor à ação da insulina. Segundo Velloso, o anti-MCH testado na Unicamp reduz em 20% o peso dos animais e aumenta a ação da insulina em 30%. A produção de MCH no hipotálamo estimula uma parte do sistema nervoso, chamado sistema nervoso autônomo simpático, que controla a produção de calor por tecidos periféricos, como músculos e tecido adiposo. Quanto maior a quantidade de MCH no hipotálamo, menor o gasto com produção de calor. Com isso o indivíduo economiza energia, armazenada na forma de gordura. O professor explicou que o MCH controla a produção de insulina pela ilhotas pancreáticas e a ação dela em tecidos como músculo, tecido adiposo e fígado, por meio dos estímulos neurais. A insulina, por sua vez, controla a quantidade de glicose no sangue e age também no hipotálamo, produzindo a sensação de saciedade. "Complexas conexões participam de um ciclo que controla a fome, o gasto de energia, a produção e a ação da insulina em múltiplos órgãos", disse Velloso. De acordo com ele, o MCH está relacionado ao diabete tipo 2. O professor lembrou que 9% da população brasileira têm diabete, 90% do tipo 2. "A resistência à ação da insulina em outras regiões do corpo favorece o desenvolvimento de diabete, enquanto a resistência à insulina no cérebro favorece o desenvolvimento de obesidade", afirmou o pesquisador. Testes - Nos camundongos e ratos, os pesquisadores aplicam uma dose injetável da droga anti-MCH por dia. "Para os humanos é preciso desenvolver uma apresentação que permita uso via oral. Acreditamos que uma a duas doses ao dia devem ser suficientes também em humanos", disse o professor Licio Velloso. Ele disse não haver previsão de quando começam os testes em humanos. De acordo com o professor, há uma tendência a se desenvolver medicamentos associados que possam ser usados no tratamento de doenças crônicas, como é o caso do diabete e da obesidade, que não têm cura, mas podem ser controlados. As pesquisas com a droga anti-MCH são financiadas pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). O assunto foi tema de tese do aluno Márcio Pereira da Silva.