Os resultados das pesquisas integram projeto financiado pela FAPESP no âmbito do Programa BIOTA
Apoiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), um grupo de pesquisadores brasileiros realizou o primeiro sequenciamento genético de uma espécie silvestre de maracujá nativa do Brasil. A pesquisa, publicada na revista The Plant Genome, abriu caminho para o desenvolvimento de novas variedades da fruta, além de custos de produção mais baixos.
Segundo a professora do Departamento de Genética da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP) e coordenadora do estudo, Maria Lucia Carneiro Vieira, foi possível identificar vários genes relacionados ao mecanismo que causa a autoincompatibilidade, isto é, que impede a autofecundação. “Esta informação é bastante útil, já que 40% do custo de produção refere-se à obrigatoriedade de se fazer cruzamentos manuais nos pomares comerciais, induzindo a produção de mais frutos. Na natureza, quem faz esse papel é a mamangava. Se entendermos o mecanismo da autoincompatibilidade, poderemos talvez interferir e ter frutos oriundos também de autocruzamentos”, explica.
A fruta
O maracujá é uma planta nativa do Brasil que cresce na Mata Atlântica. O genoma dessa espécie é considerado pequeno, diploide (quando os cromossomos se organizam em pares, como na espécie humana) e incompatível com a autofecundação, ou seja, não se auto fertiliza como algumas espécies de plantas.
Os pesquisadores explicaram que, por ter o genoma completo de uma espécie, uma série de comparações pode ser feita para entender genes únicos e ortólogos (genes compartilhados entre espécies diferentes). Além disso, é possível comparar a existência e organização das chamadas sequências repetitivas e o tamanho do genoma de espécies intimamente relacionadas.
De acordo com Zirlane Portugal da Costa, primeira autora do trabalho, houve uma publicação recente de um cultivo de maracujá-roxo na China, o que facilitou os estudos comparativos. “No nosso caso, tivemos informações para fazer estudos comparativos, como quais fenótipos foram selecionados na espécie cultivada e sobre a qualidade dos frutos em comparação à espécie silvestre, nativa do Brasil”, afirma.
Na pesquisa agora publicada, a maioria das sequências é atribuída aos cromossomos da espécie, a saber, seis. Aproximadamente 60% das sequências são de natureza repetitiva. Os pesquisadores foram capazes de prever 25.327 genes, incluindo aqueles envolvidos no mecanismo que leva à autoincompatibilidade e aqueles pertencentes à família MADS-BOX, que estão envolvidos no desenvolvimento reprodutivo das plantas.
“Os genes da família MADS-BOX induzem a expressão dos genes ligados ao desenvolvimento. Por isso, conhecê-los ajuda a promover o conhecimento sobre, por exemplo, como se dá o desenvolvimento das flores e frutos”, afirma Vieira.
Os pesquisadores também esclareceram que o estudo permite codificar genes para sintetizar várias proteínas vitais para a célula. Com esse resultado, é possível entender a herança dos cloroplastos, ou seja, se provém apenas de flores femininas, masculinas ou de ambas.
Fonte: Capitalist