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Pesquisadores preveem expansão global da indústria de biocombustíveis

Publicado em 25 novembro 2013

Por Agência FAPESP

Pesquisadores reunidos no Workshop Bioenergia e Sustentabilidade: a Perspectiva da Indústria preveem uma forte expansão global da indústria de biocombustíveis. Para eles, o impulso será dado pela necessidade de aumento da produção e distribuição de energia e pela decisão de países, como os Estados Unidos, de aumentar a utilização de combustíveis renováveis até 2021.

Para fazer frente à demanda, será preciso, entretanto, superar diversos desafios, como aumentar o cultivo de espécies, sem afetar a produção de alimentos, preparar o setor agrícola para enfrentar as mudanças de clima e criar condições para competir com os combustíveis fósseis, hoje fortemente subsidiados.

O encontro realizado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) foi preparatório para o que será realizado no início de dezembro, em Paris, na França, na sede da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

Segundo a Agência Fapesp, o resultado do encontro - realizada a convite da Secretaria do Comitê Científico para Problemas do Ambiente (Scope) da Unesco - deverá resultar em um "Resumo de políticas" contendo uma série de recomendações da academia, indústrias, instituições governamentais e não governamentais (ONGs) para apoiar a tomada de decisões relacionadas a biocombustíveis e sustentabilidade por parte de empresas, governos e instituições internacionais associados à Organização das Nações Unidas (ONU).

O trabalho contará com a participação de 95 especialistas da área de biocombustíveis, provenientes de 56 instituições de pesquisa de 19 países, e deverá ser publicado na forma de um livro eletrônico (e-book) previsto para ser lançado em outubro de 2014.

De acordo com dados apresentados por pesquisadores participantes do encontro, obtidos da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), a demanda por energia no mundo deverá dobrar nas próximas décadas, passando dos atuais 500 hexajoules (hj) para mil hexajoules em 2050.

A produção de óleo e gás, no entanto - que representam 60% da energia primária mundial -, deverá cair no mesmo período, tendo em vista que está diminuindo o número de reservas de petróleo e, em contrapartida, aumentam os custos para prospecção e extração de óleo e gás de novos campos petrolíferos, aponta o órgão.

Em razão desse cenário e com a finalidade de atender ao aumento da demanda mundial por energia, a IEA prevê que, em 2030, os biocombustíveis contribuirão com 4% a 10% - dependendo da introdução do etanol de segunda geração - no total da energia utilizada para transporte rodoviário no planeta.

Para isso, será necessário utilizar entre 3,8% e 4,5% da terra arável disponível mundialmente para o cultivo de culturas agrícolas destinadas à produção de biocombustíveis, contra 1% do total de terra usada hoje no mundo para essa finalidade.

Essa expansão da produção de biocombustíveis, no entanto, não deverá competir com a de alimentos, cuja demanda mundial também aumentará nos próximos 40 anos, estimam os pesquisadores.

Desde 2007, a produção de biocombustíveis no mundo aumentou 109%. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) projetam para os próximos anos aumento de 60% na produção de bioetanol e biodiesel no mundo.

Uma das razões para esse aumento de produção, de acordo com especialistas, é a decisão de mais de 40 países, anunciada nos últimos anos, de aumentar a utilização de etanol em suas frotas de veículos até 2021.

Segundo José Goldemberg,  professor do Instituto de Eletrotécnica e Energia (IEE) da USP, os Estados Unidos estipularam que, em 2012, deverão consumir 79,8 bilhões de litros de etanol a mais do que o total de 67 bilhões de litros do combustível que obtêm do milho e utilizam hoje.

A legislação norte-americana estabeleceu, porém, que essa cota excedente deverá ser de biocombustíveis de segunda geração, produzidos no próprio País.

Mas especialistas na área acham que essa meta será difícil de ser atingida em razão das dificuldades industriais enfrentadas atualmente para produzir esse tipo de bioenergia obtida não apenas da sacarose presente no colmo da cana-de-açúcar - como a do bioetanol de primeira geração, por exemplo -, como também do açúcar presente nas paredes celulares do bagaço, das folhas e de outros resíduos da planta.

"Se essa legislação não for mudada, os Estados Unidos terão de importar esse etanol excedente de algum outro país produtor, proporcionando uma oportunidade interessante para o Brasil", diz  Goldemberg, professor do Instituto de Eletrotécnica e Energia (IEE) da USP, durante o evento.