Nove pesquisadores do centro-oeste paulista estão entre os mais influentes do mundo, segundo estudo da Universidade de Stanford. Marília Buzalaf e Ciro Rosolem, que fazem parte de seleto ranking mundial, dizem que ainda há muitos desafios para se fazer ciência por aqui. Entre os mais influentes do mundo, pesquisadores do interior de SP relatam dificuldades com trabalho no Brasil
Nove pesquisadores do centro-oeste paulista estão entre os mais influentes do mundo pelo impacto e relevância de seus trabalhos científicos ao longo da carreira, segundo um estudo da Universidade de Stanford.
Dois deles, Marília Buzalaf, da Universidade de São Paulo (USP) em Bauru, e Ciro Rosolem, da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Botucatu, disseram ao g1 que se sentem privilegiados pelo ranking, mas que ainda há muitos desafios para se fazer ciência no Brasil.
Marília é professora e a atual diretora da Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB), da USP. Ela estuda prevenção da cárie e da erosão dentária, com ênfase na toxicologia de fluoretos. “A maior parte do trabalho preventivo é feita com fluoretos, mas eles precisam ser usados na dosagem certa, para não serem tóxicos”, explica.
Por seus trabalhos, compilados em cinco livros e mais de 400 artigos, Marília já recebeu mais de 70 prêmios. Hoje, a docente lidera linhas de pesquisa sobre harmonização orofacial, uma especialidade nova, que serve para harmonizar o rosto por meio de intervenções estéticas.
“Estar no ranking é um reconhecimento por tudo o que a gente faz a vida inteira. A gente sente que é reconhecido pelo nosso trabalho”, diz.
Marília Buzalaf é a atual diretora da Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB), da Universidade de São Paulo (USP)
Divulgação
Marília é pesquisadora A1, termo dado ao nível mais alto das bolsas de produtividade do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Mesmo com 28 anos de atividade acadêmica, ela sente que ainda há muitas barreiras a serem superadas na área da ciência.
“Tenho dificuldade em várias coisas, como comprar reagentes, por exemplo. Demora muito tempo para chegar. Há muitos entraves para trazer ou levar amostras para o exterior. A gente precisa melhorar muito, para deixar as coisas mais fáceis e menos burocráticas”.
Os desafios da área são tantos que têm levado muitos pesquisadores, especialmente os mais jovens, a abandonarem o Brasil para trilhar carreiras em outros países. Hoje, há de dois a três mil cientistas brasileiros trabalhando no exterior, segundo estimativa do Centro de Gestão de Estudos Estratégicos (CGEE).
A docente reconhece, no entanto, que a situação é menos crítica em território paulista, muito por causa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), principal agência de fomento à atividade científica por aqui.
“Nós somos privilegiados, porque temos a FAPESP, que tem uma saúde financeira excelente. Agora, no restante do país, é mais complicado, porque o financiamento é bem menor”.
Marília esteve presente em todas as edições do ranking, que é elaborado anualmente pela Universidade de Stanford desde 2019 e, este ano, foi publicado na Editora Elsevier, em 10 de outubro.
No levantamento, 195.605 pesquisadores ao redor do planeta foram ranqueados em 22 campos e 170 subcampos científicos. Eles são considerados os 2% mais influentes a nível mundial, levando em conta a quantidade de publicações e de citações que seus trabalhos tiveram ao longo da carreira.
Entre os ranqueados, há cientistas das britânicas Universidades de Oxford e Cambridge e das norte-americanas Harvard e Stanford, consideradas as melhores universidades do mundo.
Ciro Rosolem é professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Botucatu desde os anos 70
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Para Ciro, que também é pesquisador A1 do CNPq, dificuldades estruturais, como falta de financiamento e baixa remuneração, impedem que os pesquisadores brasileiros consigam competir de igual para igual com os estrangeiros.
“Vivemos uma situação crítica. Praticamente, não tenho mais funcionários no meu departamento. A universidade não abre vagas. Conheço excelentes doutores que estão desempregados, e a nossa eficiência média acaba caindo por causa disso. Estar no ranking, diante disso, é meio paradoxal”, diz.
Ciro é doutor em agronomia e, desde 1975, leciona na Faculdade de Ciências Agronômicas (FCA) da Unesp. Ele é um dos precursores no estudo da integração entre a agricultura e a pecuária no Brasil, que busca utilizar um único solo para diferentes sistemas de produção.
“Plantamos soja no verão, milho na safrinha e, depois, capim, por exemplo. Depois de colher milho, podemos pastejar, porque há pasto. Aí, vemos: será que o adubo do capim pode servir para outra planta? A soja fixa nitrogênio no ar, quanto disso vai para o milho e para o pasto?”, explica.
“Sempre queremos que alguém leia quando escrevemos uma pesquisa. É muito satisfatório saber que tem gente acompanhando nosso trabalho”, diz Ciro sobre estar no ranking.
A falta de infraestrutura, segundo o docente, acaba desestimulando doutores a seguirem carreiras acadêmicas. Eles acabam preferindo as empresas privadas, nas quais encontram melhores salários em relação às universidades.
“A gente procura trabalhar com parcerias, porque não há recursos. Além da FAPESP, a gente vai atrás de parcerias com empresas, para, a partir disso, conseguir financiar as pesquisas”, relata.
Pesquisadores da região inseridos no ranking
FOB-USP teve quatro representantes no ranking dos cientistas mais influentes do mundo em 2022
Eduarda Guelfi/g1
Este ano, as cidades de Bauru e Botucatu tiveram, juntas, nove representantes na lista. Cinco deles são cientistas da Unesp e quatro da USP. O grupo faz parte dos 844 brasileiros classificados pelo estudo.
Ana Carolina Magalhães – USP em Bauru
Clélia Akiko Hiruma-Lima – Unesp em Botucatu
Ciro Antonio Rosolem – Unesp em Botucatu
Fausto Foresti – Unesp em Botucatu
Gustavo Pompermaier Garlet – USP em Bauru
João Paulo Papa, Unesp em Bauru
José Maurício Sforcin – Unesp em Botucatu
Luiz Claudio Di Stasi – Unesp em Botucatu
Marília Afonso Rabelo Buzalaf – USP em Bauru
Paulo César Rodrigues Conti – USP em Bauru
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