Projeto visa à criação de um dicionário de termos de Química de Pesticidas
Nos últimos anos, o Brasil tem se destacado como um dos maiores exportadores agropecuários do mundo e, por consequência, o maior importador de pesticidas. Nesse contexto, estudos sobre as melhores formas de análise, controle e destinação de compostos químicos xenobióticos excedentes ou adulterados visando à preservação do meio ambiente têm sido desenvolvidos por pesquisadores da área de Química que, frequentemente, publicam os resultados de suas pesquisas em revistas científicas nacionais e internacionais.
O fato de os termos originarem-se em sua maioria em língua inglesa tem causado dificuldades na comunicação por parte de pesquisadores e alunos de Química, que muitas vezes traduzem os termos sem conhecer o método de tradução específico para a área, e nem ao menos conhecer as normas sugeridas por órgãos sistematizadores como a International Union of Pure and Applied Chemistry (IUPAC).
Normalmente, esses pesquisadores e alunos preferem empregar uma tradução livre em seus textos em português ou, simplesmente, manter os termos em inglês sem uma tradução.
A Profa. Dra. Marcela Marques, do Departamento de Química e Ciências Ambientais da Unesp/Ibilce, já havia identificado o problema na tradução de termos da área de Química de Pesticidas, problema que abrange desde teses de doutorado, passando por livros didáticos e até mesmo em monografias da ANVISA e, ao consultar a Profa. Dra. Paula Tavares Pinto, do Departamento de Letras Modernas da Unes/Ibilce, propuseram um projeto interdisciplinar de identificação e tradução dos termos do inglês para a língua portuguesa.
As docentes têm trabalhado nesta pesquisa há oito anos, nos quais outros pesquisadores passaram a integrar o grupo. O projeto segue os pressupostos da Agenda 2030 da ONU, contribuindo para o alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas.
O governo da Suíça tem incentivado projetos em parceria com a América Latina com o objetivo de estimular a importação de alimentos saudáveis e livres de pesticidas não aprovados pelos órgãos de vigilância sanitária mundiais.
Nesse sentido, em 2021 as docentes da Unesp tiveram o projeto aprovado pela Leading House da University of St Gallen, fundação de pesquisa da Suíça, com o propósito de identificar termos ligados aos agrotóxicos organofosforados em inglês e seus correspondentes em língua portuguesa a partir de uma metodologia inovadora de Processamento de Linguagem Natural (PLN).
O projeto EVOLVE (language as a tool for EnVirOnmentaLly sustainable actions in deVEloping countries: for the right to healthy food) tem a missão principal de propor a tradução de termos que estejam relacionados à saúde e ao meio-ambiente.
Na Universidade de St. Gallen, o responsável é o Prof. Dr. Siegfried Handschuh, coordenador do Instituto de Ciência Computacional, que lidera o grupo suíço no qual se encontra o Dr. Reto Gubelmann.
De acordo com o pesquisador, “a identificação de termos sinônimos, dentro de uma mesma língua ou de línguas diferentes, sempre foi uma tarefa central do processamento de linguagem natural (PLN), o subdomínio da ciência da computação que lida com os desafios decorrentes do processamento automático de linguagens naturais.
Neste projeto, fornecemos a expertise do PLN para enfrentar um problema presente na pesquisa de Química de Pesticidas no Brasil. Juntamente com os nossos parceiros brasileiros, que contribuem com o conhecimento específico do domínio, tentamos encontrar termos diferentes para o mesmo agente químico”.
No mês de novembro, o grupo da Unesp visitou a universidade de St. Gallen para realizar reuniões conjuntas e refinar a metodologia que une a Linguística de Corpus e o Processamento de Linguagem Natural. Lá, também se reuniram com o representante da área de internacionalização, Prof. Peter Lindstrom, e com a representante da Fundação Leading House, Profa. Yvette Sanchez, para discutir planos de continuação da pesquisa.José Victor de Souza, mestrando da Unesp/Ibilce, tem pesquisado a questão da tradução de pesticidas organofosforados há sete anos e diz que “essa parceria é única, pois acrescenta ao nosso time, que já nasceu transdisciplinar, especialistas da área de PLN. Além disso, acredito ser importante o envolvimento de nós linguistas no desenvolvimento de métodos/ferramentas computacionais. Muitas vezes somos usuários desses softwares, mas não desenvolvedores. A ideia agora é participarmos do desenvolvimento também”.
Para a pós-doutoranda da Unesp/Ibilce, Talita Serpa, que recentemente passou a integrar o projeto, a visita foi muito positiva, uma vez que ampliou as perspectivas de trabalho com tradução de terminologias, as quais vêm sendo foco de suas pesquisas desde 2008. O objetivo final do projeto é a publicação de um dicionário de termos de Química de Pesticidas, que poderá ser utilizado por alunos e pesquisadores de Química, assim como tradutores que tenham que trabalhar com esta área. A terminóloga e professora da Universidade de Uberlândia (UFU) Profa. Dra. Francine de Assis Silveira, está trabalhando no projeto para que se obtenha a melhor maneira de apresentação do dicionário de modo que seja de fácil compreensão por parte do seu público alvo, que podem ser especialistas, tradutores ou produtores agrícolas.
O projeto evidencia a importância das pesquisas realizadas no Brasil, que têm o intuito de identificar e tratar de assuntos diretamente relacionados à saúde e à economia do país. Produtos atestados pelas agências de vigilância sanitária têm mais chances de serem aceitos em países em que essa questão é seguida à risca. Vale destacar aqui que, do lado brasileiro, o trabalho é financiado por importantes agências de fomento à pesquisa como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
Esta última sofreu recentemente um corte de verbas por parte do Ministério da Economia que evidencia o desconhecimento dos efeitos negativos que cortes orçamentários podem causar às pesquisas que estão diretamente ligadas ao melhoramento e à exportação de produtos brasileiros.
Neste sentido, a Profa. Paula afirma, “temos procurado divulgar e esclarecer à população como a Ciência está interligada ao bem estar e à saúde da população. Outras áreas de destaque que envolvem os ODSs e as pesquisas brasileiras são a Educação de qualidade e as parcerias inovadoras que beneficiam a Economia sustentável”.