Pesquisadores do Hospital A.C.Camargo, em São Paulo, buscam, por meio de uma simples coleta de sangue de pacientes com câncer, antever se determinado tipo de tratamento trará ou não a resposta mais eficaz para cada caso. Inédita no Brasil, a análise dos níveis de células tumorais circulantes teve seus primeiros relatos feitos ao longo dos últimos anos por pesquisadores norte-americanos e europeus. O projeto brasileiro está sendo financiado pela FAPESP, que está investindo 700 mil reais até maio de 2014.
O estudo é liderado pelo patologista e diretor de Anatomia Patológica, Fernando Augusto Soares, e reúne também o diretor de Oncologia Clínica, Marcello Fanelli e a pesquisadora Ludmilla Domingos Chinen.
A meta do A.C.Camargo é realizar ao longo dos próximos dois anos a contagem das CTCs de 230 pacientes a serem atendidos na Oncologia Clínicas, sendo 100 com diagnóstico de câncer colorretal, 100 com câncer de pulmão e outros 30 com câncer de pâncreas. Acredita-se que a disseminação do câncer necessita da presença de CTCs.
Participarão pacientes a partir de 18 anos com doença localmente avançada ou doença metastática confirmada por análise patológica e/ou radiológica e também por pacientes que iniciarão quimioterapia de primeira linha para doença metastática e com extensão da doença determinada por exame físico e por imagem. Não serão incluídos pacientes com histórico prévio de outro câncer nos últimos dois anos.
A pesquisa será realizada por meio de coleta de sangue (plasma) de pacientes com tumores sólidos metastáticos ou localmente avançados, tendo como controle negativo o sangue de indivíduos sadios e como controle positivo amostras de sangue com células tumorais de cólon mantidas em cultura. O sangue dos pacientes será coletado em três tempos, sendo o primeiro antes do início do tratamento sistêmico (quimioterapia, terapêutica hormonal, terapias-alvo, dentre outras), a segunda etapa três a quatro semanas após o início do tratamento e a terceira se repetindo a cada 9 ou 12 semanas, dependendo do tratamento.
Será utilizado pelos pesquisadores do A.C.Camargo o sistema Ariol, que faz a separação celular por pérolas magnéticas e as identifica por meio de anticorpo anti-citoqueratina, fazendo a seleção negativa com anti-CD45 (separação de leucócitos). Além disso, será usado o ISET (Isolation by Size of Epithelial Tumor Cells), um método direto de enriquecimento das células epiteliais por filtração. "A simplicidade proporcionada pelo ISET evita a perda de células raras em múltiplos passos de isolamento. Após isoladas, as CTCs podem ser caracterizadas, por exemplo, por imunocitoquímica, FISH ou análise molecular", afirma Ludmilla Chinen.
De acordo com os pesquisadores, o protocolo visa estabelecer se a metodologia de contagem de CTCs poderá ajudar a nortear o tratamento de diferentes maneiras. "Queremos correlacionar os níveis de CTCs com exames de imagem e poder afirmar se com a informação gerada o clínico poderá melhor determinar se uma um terapia específica está funcionando ou não". Ainda segundo eles, existe a meta de levar à diminuição de exames de imagem, que são onerosos e cansativos e, para tanto, apenas fazer o acompanhamento dos pacientes pelos níveis de CTCs. Por fim, pela observação da expressão de marcadores/genes que são resistentes ou não aos CTCs e sua correlação com a expressão de tumores e resposta, os pesquisadores querem chegar à conclusão sobre qual é o tipo de terapia mais eficaz para cada paciente, levando a uma individualização inteligente do tratamento.
Fonte: Isaúde.net