Processamento de cascas da fruta foi realizado na Universidade de Sorocaba (Uniso). Previsão é que o curativo de abacaxi chegue ao mercado em cerca de 10 anos. Pesquisadores da região desenvolvem curativo à base de abacaxi
Pesquisadores de duas universidades brasileiras desenvolveram um curativo com alto poder cicatrizante feito de abacaxi. Na Universidade de Sorocaba (Uniso), a pesquisa se desenvolveu com o processamento de cascas da fruta, que serve de alimento líquido para uma bactéria.
A bactéria Gluconacetobacter Xylinus é parte da nanocelulose bacteriana, responsável por formar este tipo de curativo para machucados, que antes passa por um processo de limpeza e clareamento até ficar transparente.
A pesquisa vem sendo desenvolvida há 10 anos. A Universidade de Campinas (Unicamp) também auxiliou no trabalho, com foco na bromelina, um composto de proteínas encontrado no abacaxi que tem efeitos anti-inflamatórios. O processo de retirada da bromelina é feito em laboratório.
“Nós vimos que tem indicativos que ela pode acelerar a cicatrização e ajudar a não ter uma contaminação na ferida”, disse a doutora em processos fermentativos, Angela Faustino Jozala.
Os trabalhos das duas universidades foram unidos para extrair a proteína do abacaxi e, finalmente, formar o curativo capaz de acelerar a cicatrização de feridas. O resultado é uma membrana fina e transparente que só precisa ser colocada sobre a ferida na pele.
Pesquisa vem sendo desenvolvida há 10 anos
Testes feitos em laboratório com membranas de nanocelulose bacteriana mergulhadas por 24 horas na proteína do abacaxi apontaram um aumento de nove vezes na atividade antimicrobiana, ou seja, que acelera o processo curativo.
O produto final ainda não foi batizado oficialmente, mas já ficou conhecido como curativo de abacaxi. Para chegar ao mercado consumidor ainda será necessário passar por estudos clínicos e regulamentação.
Curativo de abacaxi foi desenvolvido na Universidade de Sorocaba
“No laboratório, ela é segura e eficaz, mas precisamos ver como isso vai se comportar em pessoas, no ensaio clínico”, afirma a farmacêutica Janaína Artem Ataide.
O projeto de pesquisa foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e chegou a ser publicado em uma revista científica internacional. “Dar um passinho a mais é sempre muito importante e a gente precisa desse respaldo do público”, acrescenta Angela.
As pesquisadoras afirmam que, além do baixo custo para a criação do curativo, que ajuda a cicatrizar de forma mais rápida os ferimentos, é também uma realização pessoal e conquista brasileira. “Ver isso caminhando para o caminho que a gente queria é muito gratificante”, diz Janaina.
A previsão dos pesquisadores é que o curativo de abacaxi chegue ao mercado em cerca de 10 anos.