Pesquisadores do departamento de química da USP de Ribeirão Preto (SP) desenvolveram um biomaterial a partir de colágeno e açúcar de algas que deve ajudar a regenerar e substituir ossos humanos no tratamento de doenças.
O que muda? Atualmente, é necessário retirar uma parte do osso da própria pessoa e implantá-lo no local necessário.
A aposta dos pesquisadores é que, com o biomaterial regenerador, o paciente que precisa do reparo ósseo não vai ter que passar por esta cirurgia.
“A gente tem esse estímulo [genético] pras nossas células osteoblásticas crescerem e desenvolverem esse reparo ósseo”, diz a pesquisadora Maryanne Trafani De Mel.
Qual é o diferencial? Segundo a coordenadora da pesquisa, Ana Paula Ramos, existem outros produtos usados pela medicina nestes casos. No entanto, o biomaterial produzido pela USP é o que mais se aproxima do osso humano, o que favorece o processo de regeneração óssea.
“A chance de rejeição é praticamente zerada”, afirma a coordenadora.
Resultados e próximos passos: os resultados obtidos em laboratório são promissores, e os próximos passos do estudo serão os testes em animais (a primeira fase para validar o resultado em organismos vivos), em seguida, o teste do biomaterial em humanos.
Como é feito?
O biomaterial é resultado de dez anos de pesquisa da faculdade de química. Este estudo, em específico, começou em 2019.
O pesquisador e autor da pesquisa Lucas Fabrício Bahia Nogueira explica que a proposta de utilizar o açúcar das algas marinhas foi uma maneira de substituir outros compostos que também estão presentes na composição dos ossos.
“O colágeno é a proteína majoritária, mas existem outros compostos não colagênicos que também são importantes na composição e na organização desse sistema, desse material que nós estamos produzindo tentando imitar o que existe naturalmente”, explica Nogueira.
O colágeno é extraído do tendão de animais. Já o açúcar é separado de algas marinhas e, no laboratório, os dois são purificados antes de serem misturados para formar um gel.
Esse gel é armazenado em uma estufa em uma temperatura de 37ºC por 12 horas. Depois deste tempo, o resultado é uma membrana redonda e branca no centro do pote onde foi armazenada. Após secar, o molde fica parecido com a formação óssea do corpo humano.
Além do benefício para os pacientes, o material também pode ser usado para o estudo de doenças, diminuindo o uso de animais para este fim.
“O uso desse tipo de material, acelera o conhecimento do comportamento com o sistema vivo e reduz o tempo de pesquisa e num futuro próximo poderá ser feito uma seleção de qual é o melhor biomaterial para ser efetivamente aplicado para uso em humanos”, explica o professor de bioquímica Pietro Ciancaglini.