A Rede de Diversidade Genética Viral (RDGV), um instituto virtual que congrega especialistas para estudos de vírus no estado de São Paulo, pode ser considerada modelo para países em desenvolvimento.
Em um artigo publicado no último dia 11 na revista científica PLos Biology, cientistas brasileiros descrevem a importância da RDGV, que vem reunindo pesquisas e informações sobre quatro vírus no estado: o da Imuno Deficiência Humana (HIV-1); o vírus Respiratório Sincicial Humano (VRSH); o da Hepatite C (VHC); e o Hantavirus.
Segundo um dos coordenadores do projeto, o professor Paolo Zanotto, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, a iniciativa congrega, entre pesquisadores, estudantes de pós-graduação e iniciação científica, pouco mais de 250 pessoas, com financiamento da Fapesp.
A RDGV é composta por cinco laboratórios centrais e 17 unidades-satélite. Sete laboratórios são de biossegurança nível 3, responsáveis em trabalhar com amostras de roedores silvestres colhidas para os estudos do Hantavirus. As operações da rede tiveram início em 2001.
Atualmente, de acordo com o professor Zanotto, uma grande quantidade de dados de base virológica sobre as doenças já está disponibilizada no sistema de saúde pública do estado de São Paulo, com materiais prontos para publicação. Aliás, a publicação na PLoS Biology mostra que, após a instituição do "instituto virtual", houve aumento significativo na produtividade científica em Virologia no Estado de São Paulo, como indicado pelo número de publicações em periódicos indexados no PUBMED.
Os estudos com o HIV-1 contém dados clínicos de 1.279 pacientes de oito cidades paulistas, amostrados entre 2001 e 2004. "Atualmente, esses dados são usados num estudo dos padrões de dispersão de subtipos circulantes e recombinantes do HV-1. As informações nos permitem avaliar em profundidade o programa de saúde brasileiro em relação à doença", avalia Zanoto.
Informações sobre os vírus
As tarefas coordenadas da rede em relação à hepatite C envolvem o estudo de 1.000 pacientes submetidos à diversos tipos de terapias e acompanhamento clínico em três cidades do estado. De acordo com o pesquisador, os dados destas pesquisas têm fornecido informações importantes não só sobre a dinâmica de propagação do VHC mas também do impacto de medidas de controle sobre a dispersão de genótipos virais ao longo dos últimos 40 anos.
Em relação ao Vírus Sincicial Humano (VRSH), o instituto virtual já conta com 2.000 amostras, coletadas desde 2005. Zanotto lembra que o VRSH é o principal microorganismo envolvido em casos de bronquiolite, "a quinta causa de mortalidade infantil no mundo". Os estudos têm permitido uma perspectiva sobre a intrincada flutuação dinâmica do vírus dos tipos A e B e informando sobre o possível repertório de escape imune.
A hantavirose pulmonar vem se tornando um problema de saúde no País. Somente em 2007 foram notificados 884 casos, com uma taxa de 39% de mortalidade. A doença é provocada pela inalação do vírus no ar ou pelo contato com roedores contaminados. "Na última semana a RDGV teve um paper aceito no jornal Molecular Biology and Evolution no qual demonstra-se que os hantavírus evoluem a taxas muito elevadas de mutação", conta Zanotto. Este achado, segundo o cientista, é intrigante e preocupante. "Ele explicaria o porque de somente nos últimos 50 anos termos observado a emergência de hantaviroses em humanos no mundo inteiro. Isto porque os dados sugerem que os hantavirus teriam começado a se espalhar recentemente (nos últimos 2 séculos) entre diversas espécies de roedores, que perfazem 2/3 dos mamíferos existentes, colocando os humanos em sério risco potencial e crescente."
Até o momento, já foram investidos no projeto RDGV cerca de US$ 9 milhões para aparelhar a rede de laboratórios. O instituto virtual tem a coordenação científica do professor Paolo Zanotto. O professor Edison Durigon, também do ICB, é o responsável pela implementação laboratorial. "Ele teve um papel relevante além do "instituto virtual", pois foi crucial para a montagem da rede brasileira de laboratórios de biosegurança de nível 3 (NB3) sendo criada pelo Ministério de Saúde", ressalta Zanotto. O setor de relações institucionais da rede é de responsabilidade do professor Eduardo Massad, da Faculdade de Medicina da USP.
Da USP Online