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Pesquisadores da Unicamp produzem desenho animado para ensinar física a adolescentes; veja imagens (31 notícias)

Publicado em 30 de junho de 2019

Por Rui de Amaral | G1

Projeto ‘Anima Física’ traduz conceitos e teorias em forma de animação e visa facilitar compreensão dos estudantes. Curta ‘Quarks e Léptons’ ensina conceitos de física de maneira descomplicada a adolescentes

Assistir a um desenho animado e, ao mesmo tempo, aprender conceitos de física de partículas. Pode parecer estranho, mas é exatamente esse o alvo do projeto de um grupo de pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) em Campinas (SP) em parceria com o Núcleo de Cinema e Animação da cidade.

Intitulada “Anima Física”, a iniciativa tem como público-alvo adolescentes entre 12 e 16 anos que cursam o ensino médio ou estejam concluindo o fundamental.

Para desenvolver o curta, o professor titular do Instituto de Física da Unicamp Marcelo Guzzo, que também integra o Grupo de Estudo de Física e Astrofísica de Neutrinos (Gefan) na instituição, conta que foi preciso se reunir com o grupo de animadores para uma intensa aula de física para garantir a exatidão teórica do projeto.

Na outra ponta, o animador Maurício Squarisi ficou à frente da parte artística. Não foi o aprendizado sobre o conteúdo científico presente na animação que mais o impressionou, tampouco o sucesso em transformar teoria em traços coloridos e divertidos. O animador garante que teve a atenção captada por algo, segundo ele, inesperado.

“A gente, que vive no mundo da arte, fica imaginando que no mundo da ciência eles [cientistas] são todos meio bitolados. Uma coisa muito legal foi ver o quão eles são criativos e libertos. O artista e o cientista são muito próximos, dialogam muito. Eles, como nós, estão criando o tempo todo, e a imaginação funciona assim”.

Átomos, partículas e… desenho animado?

Na visão de Guzzo, o fato de ilustrar conceitos aparentemente complicados e inquestionavelmente complexos na forma de desenho animado é uma maneira poderosa de fomentar o interesse por áreas da ciência de maneira orgânica.

“A gente não quer passar conteúdo necessariamente técnico, mas fazer com que esses estudantes nutram algum interesse pela área da física ou que até mesmo decidam por trilhar um caminho científico”.

Professores e alunos do Instituto de Física da Unicamp

Antoninho Perri

Ele conta que a ideia era popularizar um conceito que, no Brasil, ainda é visto de uma maneira ultrapassada.

“A gente aprende na escola que os átomos são formados por um núcleo e que em torno dele existem os elétrons, sendo o núcleo formado por prótons e nêutrons. Esse pensamento é ultrapassado há pelo menos 50 anos”, garante.

Guzzo explica que os prótons e nêutrons, vistos por muito tempo como partículas elementares, são compostos por outras partículas ainda menores, chamadas “quarks”. Já os elétrons, como detalha o professor, fazem parte da família dos “léptons”.

E é justamente daí que surge o nome do desenho, “Quarks e Léptons”, produzido em forma de curta-metragem. A parceria com o grupo de animadores foi possível graças a um financiamento viabilizado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Prótons, elétrons e rock ‘n roll

Com experiência em desenhos que envolvem conteúdo histórico e educacional, o animador Maurício Squarisi explica a concepção do roteiro.

“Trata-se de uma adolescente chamada Mari, que é fã de rock. Na história, ela faz uma aposta com o pai dela, que tem um baú. Caso ela acerte o conteúdo do baú, ganhará ingressos para assistir a um show de sua banda favorita”.

Na trama, a adolescente utiliza a teoria das partículas para se dar bem e garantir presença na apresentação musical.

“Ela afirma que existem quarks dentro do baú, o que não deixa de ser verdade, já que são partículas elementares que compõem tudo”, conta Squarisi.

Entre os destaques presentes no trabalho final, o artista destaca a “brasilidade” que deu o tom da história.

“A personagem principal é filha de um professor de física negro e de uma mãe que, além de ser professora de biologia, é uma imigrante italiana”.

O objetivo, segundo Squarisi, é aproveitar o conteúdo do desenho para exaltar a diversidade presente no Brasil de maneira bem-humorada.

“Queríamos que ficasse algo prazeroso de assistir, senão seria apenas mais uma aula”.

Inserção nas salas de aula

Guzzo faz questão de afirmar que o projeto não tem como proposta permanecer apenas no ambiente acadêmico. Com o lançamento de um site, a ideia é que o curta possa ser assistido já em setembro, anexado a um material de apoio. Uma parceria com a Secretaria Estadual de Educação também está nos planos.

“Cremos ser um trabalho que pode interessar aos professores, além de ser algo que não costuma ser estudado”, alega o professor, que quer ver o desenho veiculado tanto em escolas públicas como privadas.

Mais dois capítulos estão no planejamento do Anima Física, que busca pleitear novos investimentos da Fapesp após a comprovação dos resultados do primeiro episódio.

“O segundo seria sobre raios cósmicos e o terceiro sobre a partícula de neutrinos, da qual nosso grupo de pesquisa é especialista no Brasil”.