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Pesquisadores da Unicamp e UFSCar transformam cápsulas de café usadas em fios para impressão 3D: ‘Lixo em valor agregado’ (34 notícias)

Publicado em 30 de abril de 2023

Reutilização tem como objetivo diminuir o impacto ambiental do descarte de plástico. Procedimento é relativamente simples e poderia ser adotado por cooperativas, dizem docentes. Cápsulas de café e peças produzidas por meio de impressão 3D

Bruno Campos Janegitz/UFSCar/Agência FAPESP

“Queridinhas” dos brasileiros pela praticidade e agilidade, as cápsulas de café carregam a fama de serem difíceis de reciclar e, por isso, terem um impacto relevante no meio ambiente. Diante disso, pesquisadores da Universidade de Campinas (Unicamp) e Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) identificaram um destino mais sustentável para cápsulas usadas: a transformação em fios para impressões 3D.

A alternativa está alinhada ao conceito de economia circular, que propõe a reutilização e consumo consciente de recursos extraídos da natureza, aprimorando os processos de produção. Segundo os pesquisadores, o reaproveitamento de cápsulas de café para produção de filamentos trata-se de um procedimento relativamente simples e que poderia ser adotado até mesmo por cooperativas.

“Com certeza, cooperativas poderiam se beneficiar dessa reciclagem, principalmente com o uso de impressora 3D, para conseguir agregar valor. Transformar o lixo em valor agregado. Esse talvez seja um dos grandes desafios da sociedade, das empresas e da universidade. Com isso, a gente consegue minimizar o impacto ambiental e a pegada de carbono”, explica o professor e pesquisador Juliano A. Bonacin, do Instituto de Química da Unicamp.

O estudo foi conduzido por pesquisadores brasileiros e britânicos na Manchester Metropolitan University, no Reino Unido, sob a supervisão do professor Craig Banks. Os resultados foram publicados na revista ACS Sustainable Chemistry & Engineering, da Sociedade Americana de Química.

Como funciona?

Docente da UFSCar, o pesquisador Bruno Campos Janegitz explica que o primeiro passo para transformação das cápsulas de plástico consiste na lavagem e secagem do material, que em seguida será triturado em pequenas partículas. Essas partículas podem ser misturadas ou não a um material condutor, capaz de transformar os filamentos em sensores eletroquímicos.

“Essa mistura vai para um sistema de extrusão que aquece a mistura e, então, há formação do filamento, que é resfriado e enrolado para uso posterior. Há também a possibilidade de se fazer o mesmo processo para a produção do filamento puro, sem o material condutor”, detalha o professor.

Na prática, segundo Janegitz, cooperativas poderiam adquirir máquinas de extrusão para reciclagem de materiais plásticos em geral, transformando os itens descartados em filamentos para impressoras 3D e possibilitando a criação de diversos tipos de itens.

“Eu pego uma embalagem que continha alimento, transformo ela num fio de plástico e posso desenhar um garfo, uma colher e imprimir esses objetos depois. Aquele plástico que eu ia jogar no lixo pode virar um produto para mim novamente. Depois do uso, eu posso pegar e reciclar novamente esse material”, exemplifica o professor Juliano A. Bonacin.

Consumo e impacto ambiental

Um relatório elaborado pela consultoria Future Market Insights reforça o favoritismo dos consumidores por cápsulas de café e aponta um crescimento exponencial do segmento nos próximos anos. A estimativa é de que, até 2032, o mercado das cápsulas de café atinja uma participação de US$ 9,8 bilhões.

No que diz respeito aos materiais utilizados na fabricação, a consultoria destaca que as vendas de cápsulas de café feitas de plástico devem chegar a US$ 5,9 bilhões no mesmo período, tendo o polipropileno e o poliestireno como principais matérias-primas.

Já uma análise realizada pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) revela o impacto ambiental do consumo regular de cápsulas de café: no Brasil, o “cafezinho” diário na máquina pode ser até 14 vezes mais prejudicial ao meio ambiente do que o consumo de café coado.

De acordo com o levantamento do IPT, um brasileiro descartaria, em média, 2,6 kg de resíduos plásticos e de alumínio por ano com o uso de cápsulas individuais. Caso optasse pelo uso do filtro no coador, o descarte anual seria de aproximadamente 183 g de papel.

Brasileiro descartaria, em média, 2,6 kg de plásticos e de alumínio por ano com o uso de cápsulas individuais, diz IPT