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Pesquisadores da UFSCar desenvolvem material que libera fertilizante para plantas de forma controlada e se degrada após 90 dias (33 notícias)

Publicado em 23 de setembro de 2024

Pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), em parceria com um produtor de antúrios de Holambra (SP), criaram um filme de algas e nanocelulose que substitui materiais importados usados como recipientes para reprodução de plantas. Esse filme libera fertilizante lentamente no substrato e pode ser adaptado para outras culturas além do antúrio.

“No caso do antúrio, nosso parceiro usa um recipiente fabricado por uma empresa estrangeira para reproduzir o tecido vegetal em laboratório. Essa empresa produz um papel e uma máquina. Outros empreendedores compram o papel e a máquina e fornecem esses vasinhos que, segundo ele, são muito caros”, explica Claudinei Fonseca Souza, da UFSCar.

A equipe usou carragena (extraída de algas vermelhas) e alginato (de algas marrons) para armazenar o fertilizante MAP (fosfato monoamônico). “O desafio na utilização de polímeros como a carragena e o alginato está na obtenção de materiais com resistência, já que eles tendem a se dissolver rapidamente em contato com a água. Por isso, adicionamos nanofibras de celulose ao material, em diferentes concentrações, na expectativa de melhorar suas propriedades mecânicas, físicas, químicas e térmicas.”

O resultado foi um filme que moldou vasinhos (4 cm de altura por 3,5 cm de diâmetro) para a reprodução de plantas. “Esse filme tem de manter a estrutura da planta, mas não pode oferecer resistência ao sistema radicular. Ou seja, tem de ser resistente, mas não muito. Por isso, fizemos o teste agregando de 1% até 5% de nanocelulose ao material. Obtivemos o melhor resultado com 4%. Nossa intenção agora é patentear o material e partir para testes com outras culturas.”

Ele destaca que a raiz tem papel fundamental na planta: “Ao conceber o material, não podemos esquecer de nenhuma delas. A partir desse filme com 4% de nanocelulose, passamos para o teste em campo, que ainda não foi publicado. Usamos uma técnica que consegue dar uma ideia do material liberado a partir da condutividade elétrica do solo. Fizemos também um teste de degradação. A cada 30 dias íamos até Holambra, coletávamos as plantas e fazíamos uma avaliação. E observamos que o material desaparece após 90 dias.”

A liberação dos nutrientes ocorre pela diferença de potencial entre o material enriquecido com fertilizante e o substrato da planta. “Estamos testando numa condição real, no campo, fazendo igualzinho o agricultor. Com amparo, portanto, da agronomia.”

O trabalho foi publicado na revista Cellulose e recebeu apoio da FAPESP.

Em laboratório, os cientistas produziram placas do material em impressora 3D e formaram os vasinhos. “Nessas placas, conseguimos fazer umas ranhuras que facilitam a saída das raízes. E a própria raiz, depois que vai crescendo, faz uma espécie de reforço do material.”

Souza afirma que é viável produzir o filme em grande escala, dado o acesso do Brasil a algas e sua posição como maior produtor de celulose. “Só que, para chegar em escala, precisamos desenvolver essa parte final, analisar os resultados do trabalho de campo e patentear o material.”

O filme tem vantagens como economia de fertilizante, pois reduz a perda por lixiviação, e pode substituir plásticos usados na agricultura. “Utiliza-se a mesma técnica de inserção de fertilizante nas esferinhas de plástico, só que nosso material é biodegradável. Depois de 90 dias, ele praticamente desaparece.”

O artigo “Enhancing marine algae composites with cellulose nanofibrils for sustainable nutrient management” pode ser acessado em: https://link.springer.com/article/10.1007/s10570-024-05947-0#Ack1

Com as informações da Agência FAPESP