O estudo realizado pela faculdade e apoiado pela FAPESP, vinculadas à SCTI, monitorou mais de 340 moradores de São José do Rio Preto, entre 2015 e 2019
Conhecido por provocar epidemias massivas – até mais impactantes que as de dengue –, o vírus do chikungunya, transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, pode também apresentar um perfil menos intenso. É o que aponta um estudo realizado por pesquisadores da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp), vinculada à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação (SCTI). De acordo com a pesquisa, o vírus circulou pela cidade do interior paulista de forma silenciosa por anos, provocando inicialmente poucos casos da doença e depois foi aumentando, de forma gradativa, o número de infecções. Essa descoberta reforça a importância de ações de vigilância epidemiológica para prever eventuais epidemias.
O estudo contou com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), e segundo os pesquisadores, a circulação do chikungunya pode preceder epidemias massivas, com exposição de grande parte da população e grande impacto na saúde pública e na vida das pessoas. O estudo reforça a necessidade da implementação de estudos epidemiológicos, genômicos, monitoramento de mosquitos e de vigilância epidemiológica. Sendo assim, seria possível se preparar com antecedência para uma epidemia de chikungunya.
O novo perfil de circulação do chikungunya, identificado no estudo realizado em São José do Rio Preto, não minimiza seu potencial como ameaça à saúde pública. Os pesquisadores apontam que a fase crônica da doença, marcada por dores nas articulações, é muito incapacitante e pode persistir por bastante tempo. Além disso, o risco de futuras epidemias continua alto, mas elas podem ser mais previsíveis.
Para isso, foram monitorados 341 indivíduos residentes em São José do Rio Preto, por quatro anos (entre 2015 e 2019). O trabalho ainda integra uma pesquisa maior, que monitorou, por meio de amostras de sangue, infecções de dengue, zika e chikungunya em São José do Rio Preto. Além disso, os pesquisadores utilizaram dados oficiais sobre a presença do vírus em mosquitos no município.
De acordo com dados do município, foram confirmados apenas 41 casos de chikungunya entre os anos de 2015 e 2019 em São José do Rio Preto, que conta com 470 mil habitantes. No entanto, as amostras de sangue coletadas no estudo da Famerp realizado neste mesmo período mostraram que a proporção de casos de infecção de chikungunya aumentou de 0,35% no primeiro ano para 2,3% após três anos de acompanhamento. Os pesquisadores analisaram 497 amostras de sangue coletadas de indivíduos com suspeita de dengue durante o surto de 2019. No total, 4,4% estavam com a doença ou tinham sido infectados recentemente (IgM positivo), outros 8,6% já tinham sido expostos ao antígeno alguma vez na vida.
Para entender o por que ainda não havia ocorrido uma grande epidemia de chikungunya na cidade, mesmo sabendo que havia a circulação do vírus. Os pesquisadores identificaram que, além de o número de infecções não serem tão massivas, como em outros lugares, trata-se de uma doença muito subnotificada. Isso acontece seja pelo fato de haver uma alta taxa de casos assintomáticos, como encontrados no estudo, ou pela possibilidade de confusão de diagnóstico com a dengue.