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Diário do Litoral (Santos, SP) online

Pesquisadores criam celular que detecta fraudes em cafés da Amazônia; veja (34 notícias)

Publicado em 29 de abril de 2025

O modelo acertou a identificação de amostras adulteradas em 95% dos testes realizados

O Brasil é referência mundial não apenas na produção de cafés da espécie canéfora, mas também na geração de conhecimento sobre o tema.

Em um estudo desenvolvido na Faculdade de Engenharia de Alimentos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), pesquisadores encontraram uma maneira inovadora de identificar a origem e fraudes em cafés da Amazônia usando apenas a câmera de um celular.

A tecnologia se baseia em imagens digitais que capturam informações de colorimetria do café moído, com auxílio de um dispositivo impresso em 3D.

A partir desses dados, os cientistas conseguiram treinar um modelo de machine learning que acertou a identificação de amostras adulteradas em 95% dos testes realizados.

Recentemente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) suspendeu e retirou do mercado diversas marcas populares de café, devido a certas irregularidades graves nos produtos.

Tecnologia contra o “café fake”

O método utiliza o sistema de cores RGB para extrair coordenadas específicas das amostras de café.

As imagens são analisadas em um programa de ciência de dados que interpreta as características físicas e gera um sinal que permite a autenticação da amostra.

A técnica foi criada inicialmente para identificar adulterações em cafés canéforas de Rondônia, produzidos por indígenas, mas pode ser adaptada para outros tipos de adulterantes.

Durante os testes, foram detectadas fraudes envolvendo arábica, borra de café, canéfora de baixa qualidade, casca de café, semente de açaí, milho e soja. O sistema foi capaz de identificar adulterações até mesmo em concentrações muito pequenas, de apenas 1%.

A importância dos canéforas indígenas

O trabalho destacou a qualidade singular dos cafés canéforas produzidos por indígenas em Rondônia.

Estudos químicos e sensoriais revelaram que o terroir amazônico imprime características únicas a esses cafés, diferenciando-os dos produzidos em outras regiões do país.

Essa é a primeira pesquisa no Brasil a estudar quimicamente cafés cultivados por comunidades indígenas, evidenciando seu alto potencial para o mercado premium.

Além dos canéforas amazônicos, a pesquisa mostrou que os cafés produzidos no Espírito Santo e na Bahia também apresentam diferenças químicas relevantes em relação aos tradicionais arábicas.

Sensorialmente, os canéforas especiais avaliados alcançaram pontuações comparáveis às dos arábicas na escala da Specialty Coffee Association of America (SCAA), na qual cafés acima de 80 pontos são classificados como especiais.

Ciência de dados para garantir a qualidade

Para identificar a procedência e a autenticidade dos cafés, os pesquisadores aplicaram técnicas de espectroscopia no infravermelho, espectrometria de absorção atômica, espectrometria de massas e ressonância magnética nuclear.

Essas tecnologias foram combinadas com métodos estatísticos avançados para processar o grande volume de dados gerado nas análises.

O estudo buscou soluções práticas que pudessem ser usadas tanto na indústria quanto na exportação, contribuindo para o controle de qualidade dos produtos brasileiros.

Parte das análises foi feita com o café verde, destinado à exportação, e outra parte com o pó de café torrado, aproximando-se da bebida consumida diariamente.

Risco crescente de fraudes no mercado

Com a elevação dos preços do café impulsionada por fatores como mudanças climáticas e aumento da demanda, a adulteração de produtos se tornou uma ameaça real.

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Ingredientes como soja e milho têm sido usados para fraudar cafés especiais, comprometendo a autenticidade do produto e enganando consumidores.

Além disso, a popularização de receitas caseiras que utilizam insumos alternativos torrados de forma inadequada acende um alerta para riscos à saúde.

A formação de compostos tóxicos nesse processo gera preocupações em relação à segurança alimentar, reforçando a necessidade de métodos de detecção cada vez mais eficazes e de regulamentações mais rígidas para garantir a transparência no setor.

*Com informações do portal Agência FAPESP