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Pesquisadores brasileiros desvendam como a infecção por zika pode afetar o cérebro do bebê. (36 notícias)

Publicado em 15 de junho de 2020

Uma rede composta por mais de 30 pesquisadores brasileiros, apoiada pela Fapesp, dedicou-se ao estudo das causas da infecção da gestante pelo vírus zika resultar em graves defeitos na formação do feto, fazendo com que, em muitos casos, os bebês nascessem com microcefalia e fossem a óbito. Os resultados do trabalho foram publicados em artigo na revista Science Signaling.

“Conseguimos mostrar, pela primeira vez, o que acontece no cérebro do feto afetado pela Síndrome de Zika Congênita [CZS, na sigla em inglês]”, diz o especialista em bioinformática Helder Nakaya, professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (FCF-USP) à Agência Fapesp.

Para isso, os pesquisadores colheram amostras dos cérebros dos bebês que morreram devido à CZS e as compararam com amostras de cérebros de bebês vitimados por outras causas. “Foi um gesto de grandeza dos pais nos autorizarem a fazer essa coleta em um momento de tanto luto. Eles agiram com a consciência de que estavam ajudando a ciência e de que a ciência poderia ajudar muitas pessoas no futuro”, afirma Nakaya.

A comparação permitiu observar várias anomalias nos cérebros dos bebês portadores de CZS. “A análise do genoma, do transcriptoma e do proteoma dos cérebros revelou diversas alterações moleculares importantes – entre elas, genes relacionados ao desenvolvimento neuronal, possíveis desregulações de neurotransmissores e até alterações em diferentes tipos.

“Outros achados importantes incluem variantes genéticas em proteínas-chave do sistema imunológico e do desenvolvimento do sistema nervoso. Esses achados podem explicar uma maior suscetibilidade à CZS em bebês que possuem essas variantes genéticas. Finalmente, ao integrar os três tipos de dados, encontramos várias alterações em vias de sinalização relacionadas à organização da matriz extracelular – o que pode explicar, em parte, a própria CZS”, acrescenta Nakaya.

O pesquisador sublinha que o levantamento exigiu um trabalho muito pesado de bioinformática, devido à enorme quantidade de dados gerados. “O DNA humano contém 3,2 bilhões de bases, que podem gerar 150 mil transcritos e codificar para mais de 25 mil proteínas. Apenas com um time multidisciplinar como este, com pesquisadores de diversas instituições de pesquisa excelentes, fomos capazes de integrar tanta informação biológica”, diz.

Nakaya enfatiza que a ciência tem seu tempo, coisa que nem sempre é bem compreendida. “O surto de zika começou em 2015 e só agora temos os resultados. É o tempo de que a pesquisa científica necessita. Eu sei que todo mundo quer respostas imediatas, mas a verdade é que acelerar artificialmente os processos tende a resultar em uma ciência de má qualidade”, afirma.

Todos os dados brutos também estão agora disponíveis publicamente para que a comunidade científica possa fazer suas próprias análises. E investigar em profundidade o papel de cada molécula descrita no trabalho.