Pesquisa da Unesp usa proteína para prejudicar mobilidade dos espermatozoidesPesquisadores da Universidade Estadual Paulista (UNESP), de Botucatu, descobriram uma forma de desenvolver o primeiro anticoncepcional masculino. Publicado na revista Molecular Human Reproduction, o estudo aponta que, a partir de uma proteína chamada EPPIN, descoberta há duas décadas e com papel no controle da movimentação dos espermatozoides, é possível a criação de medicamentos que impactem a fertilidade do homem.
O professor do Departamento de Biofísica e Farmacologia da Unesp, Erick José Ramo da Silva, explica que a ideia surgiu ao observar que após a ejaculação, os espermatozoides nadam em direção ao óvulo, mas antes disso eles não se movimentam.
"Logo após a ejaculação, o sêmen se torna uma massa gelatinosa. Essa massa prende o espermatozoide, inibindo sua movimentação. Isso é importante para evitar que ele gaste energia em um momento que não é necessário", diz Ramo da Silva.
Os cientistas descobriram que a proteína EPPIN interage com as proteínas que estão nessa massa e atuam no processo que mantém os espermatozoides imóveis. Somente quando ela se se desfaz é que eles adquirem movimentação. Para entender quais regiões da proteína EPPIN são importantes para inibir a motilidade dos espermatozoides, o projeto usou sondas que atuam como anticorpos que reconhecem sequências específicas da proteína.
Segundo o professor, para produzir um remédio que diminuísse a contagem de espermatozoides a ponto de inibir a fertilidade, seria preciso um tratamento que demoraria de 3 a 4 meses para fazer efeito, a partir do momento em que o homem começasse a usá-lo.
Apesar dos avanços nos estudos, o pesquisador destaca que ainda há desafios para se criar um medicamento.
"O homem ejacula milhões de espermatozoides, mas só é necessário um para cumprir o seu papel, então a eficácia desse tipo de estratégia tem que ser muito alta para que, de fato, possamos atingir um efeito contraceptivo eficiente. Comparando com a pílula feminina, o anticoncepcional inibe uma ovulação por ciclo, já o masculino teria que inibir a função de inúmeras células ou, até mesmo, a produção de milhões de espermatozoides por minuto", disse Ramo da Silva.
Com início em 2016, a pesquisa da UNESP foi financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) em parceria com os departamentos de Farmacologia e de Ciências Biológicas da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), além do Instituto de Biologia e Medicina Experimental do Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas, da Argentina. Os estudos também contam com colaboradores de Portugal e Reino Unido.
Por Agência O Globo