A partir da pesquisa Inéditos da dramaturgia de Guarnieri e a produção cultural crítica no Brasil a partir dos anos 1950
A pipa de Diógenes, peça inédita assinada por dois nomes fundamentais do teatro brasileiro moderno nos últimos 50 anos, Gianfrancesco Guarnieri e Oduvaldo Vianna Filho – conhecido como Vianinha –, finalmente vem a público em formato de livro. O lançamento acontece no dia 15 de outubro, às 16h, na Livraria da Tarde.
A obra, desenvolvida dentro do projeto Inéditos da dramaturgia de Guarnieri e a produção cultural crítica no Brasil a partir dos anos 1950, contemplado pelo Rumos Itaú Cultural 2019-2020, foi organizada pelas pesquisadoras Lígia Balista e Juliana Caldas, e editada pela Edições Jabuticaba. No dia do evento, as duas participam de bate-papo com o público junto a Maria Silvia Betti, professora do Programa de Pós-graduação em Estudos Linguísticos e Literários em Inglês da Universidade de São Paulo (USP).
A pipa de Diógenes também pode ser adquirida virtualmente, no site da editora https://www.edicoesjabuticaba.com.br/a-pipa-de-diogenes-gianfrancesco-guarnieri-e-oduvaldo-vianna-filho e como e-book na Amazon https://amzn.to/3RgP7IM.
A Pipa de Diógenes
“A análise desse texto, pensando a relevância da parceria dos dois e a importância dessa escrita para a formação destes grandes dramaturgos nacionais, foi o centro da pesquisa”, explica Lígia, que encontrou a peça no acervo pessoal doado pela família de Guarnieri para o Centro de Documentação Teatral da Universidade de São Paulo (CDT/USP). Trata-se de uma versão inicial manuscrita e duas posteriores datilografadas, com alterações de texto e de personagens.
Escrita em meados da década de 1950, A pipa de Diógenes contribui para a reflexão sobre os impactos do Teatro Paulista do Estudante (TPE) – que teve os dois autores entre os seus criadores – na busca de uma dramaturgia nacional e para a importância do período de formação desses artistas, tanto política quanto dramaturgicamente.
O texto aborda conflitos políticos envolvendo a Faculdade de Filosofia de São Paulo, onde um grupo de cinco jovens estudantes discute questões sobre a contratação de um professor e planeja uma greve estudantil. Uma dramaturgia com o fôlego juvenil e o frescor dos inícios de carreira é, para Lígia, um trabalho valioso aos interessados em história do teatro e em teatro político no Brasil. “Traz procedimentos dramatúrgicos depois radicalizados pelos autores em suas obras de maior repercussão, como Eles não usam black-tie e Chapetubal Futebol Clube, e coloca em cena questões políticas que rondam insistentemente a vida social brasileira.”
De acordo com ela, o título da peça já indica o recorte espacial em que se passam as ações representadas. No posfácio do livro, Lígia explica que Pipa seria o apelido do local em que moram os estudantes. Assim, o nome A pipa de Diógenes faz referência ao filósofo Diógenes de Sinope, da Grécia Antiga, conhecido também como Diógenes, o cínico. Ele teria sido exilado e vivido em mendicância, morando dentro de um tonel ou pipa, com pouquíssimos pertences.
A peça cinquentenária coloca em evidência a relação entre cultura e política e reverbera de maneira poderosa temas e questões que continuam muito vivos na contemporaneidade. Fala sobre revolução, nazismo e democracia. Abre a cortina com uma epígrafe em forma de canto que soa como um grito de guerra juvenil – “na praça do povo, no meio do mundo, a voz que berra: abaixo o fascismo!”.
Inéditos da dramaturgia de Guarnieri
O projeto de pesquisa selecionado pelo Rumos Itaú Cultural, consistiu no levantamento minucioso e na organização de oito textos inéditos assinados pelo já consagrado dramaturgo Gianfrancesco Guarnieri. Nesse acervo, agora sob os cuidados do Laboratório de Informação e Memória do Departamento de Artes Cênicas (LIM-CAC) no CDT/ USP, estão peças de teatro, roteiro para shows e algumas sinopses de textos não desenvolvidos.
Entre eles, Assim como o pão de cada dia, um show musical assinado por ele com Edu Lobo; Missa agrária, cujo subtítulo é tragicomédia musical, também traz canções na composição dramatúrgica; e A saga, texto incompleto assinado em conjunto com Consuelo de Castro e um dos poucos datados, de dezembro de 1989, parecendo uma novela sobre duas famílias que alegorizam a história do Brasil “nos últimos 35 anos” a partir de dois pontos de vista diferentes.
Lígia Balista é formada em Letras pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). No mestrado, estudou o dramaturgo português Gil Vicente e o poeta e diplomata brasileiro João Cabral de Melo Neto e fez doutorado em Literatura Brasileira na Universidade de São Paulo (USP). Foi bolsista pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), com o projeto de pesquisa sobre a obra do dramaturgo Carlos Alberto Soffredini. Publicou, pela editora Giostri, a coleção de livros Soffredini – obras principais, em 2017. Foi editora da Revista Opiniães 8 (USP), em um número sobre teatro. Fez pós-doutorado na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH/USP) sobre o acervo de Gianfrancesco Guarnieri, no Centro de Documentação Teatral (ECA).