Evanildo da Silveira escreve para 'O Estado de SP':
Análise da descoberta mostrou a idade das espécies encontradas: 220 milhões de anos
As coníferas, classe de plantas a qual pertencem as gigantes sequóias e os pinheiros, que podem atingir respectivamente 100 e 50 metros de altura, já foram arbustos de, no máximo, 5 metros.
É o que atesta uma descoberta feita pela paleontóloga Tânia Lindner Dutra, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), de São Leopoldo (RS).
Ela encontrou no ano passado, em Faxinal do Soturno, a 200 quilômetros de Porto Alegre, fósseis de 220 milhões de anos dessas plantas.
As análises agora concluídas confirmaram que o achado, o primeiro no Brasil - há apenas mais dois, um na Índia e outro na Argentina -, pertence mesmo a coníferas anãs.
Elas são uma transição entre as pteridospermas, plantas baixas que dominaram o planeta durante os períodos permiano (286 a 250 milhões de anos atrás) e o triássico (250 a 209 milhões de anos), e as atuais coníferas, que incluem, além de sequóias e pinheiros, cedros e ciprestes.
Segundo Tânia, a importância da descoberta está no fato de ela permitir que se saiba como era o mundo naquela época. As plantas fossilizadas encontradas foram contemporâneas dos primeiros dinossauros e mamíferos primitivos no fim do triássico.
Esses animais ainda não tinham o tamanho que viriam a ter. Os primeiros atingiram o auge nos períodos jurássico (209 a 145 milhões de anos atrás) e cretáceo (145 a 65 milhões). No caso dos mamíferos, eles vivem seu apogeu hoje.
'As plantas que descobrimos conviveram com esses animais primitivos', explica Tânia. 'Isso nos permite pintar o retrato completo de como era o planeta um pouquinho antes do surgimento dos grandes dinossauros, muito diferente do de hoje.'
Além de todos os continentes estarem unidos num só, o Pangea, o clima da época era mais seco e quente. A partir do fim do triássico, num movimento paralelo, os pequenos répteis e as coníferas anãs começaram a se agigantar, dando origem aos grandes dinossauros e Também às sequóias e pinheiros.
No caso dos répteis, foram favorecidos pelo clima quente. Quanto às coníferas, se beneficiaram do aparecimento de montanhas - causado pela separação dos continentes, que começava a ocorrer - com clima mais ameno.
A descoberta de Tânia começou na verdade em 2000, quando pesquisadores do Museu de Ciências Naturais da Fundação Zoobotânica e do museu da cidade de Mata (RS) encontraram na mesma região uma pinha fossilizada.
Esse órgão, no qual se produzem as sementes da planta, é exclusivo das coníferas. A princípio, a pinha foi deixada de lado, pois no mesmo local foram encontrados fósseis mais interessantes de animais, como os dinossauros e mamíferos primitivos.
Em meados do ano passado, a situação mudou. Uma nova expedição ao sítio paleontológico, comandada por Tânia, achou fósseis de outros órgãos de coníferas, como ramos, galhos, folhas e caules. A pesquisadora logo percebeu a importância da descoberta.
'São o mais bem preservado registro fóssil de coníferas já encontrado no Brasil', explica. 'Achar material desse grupo de árvores num único sítio é algo muito difícil de acontecer.' O trabalho de Tânia está publicado na edição de fevereiro da revista Pesquisa 'Fapesp'.
(O Estado de SP, 7/2)
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