Pesquisadores de diversas partes do mundo se reuniram na semana passada em Londres no último grande evento científico que antecede a Conferência da ONU no Rio de Janeiro, a Rio+20. Entre os participantes do evento estava o professor e pesquisador do Departamento de Ecologia do campus da Unesp em Rio Claro, David Montenegro Lapola.
Intitulado “Planet Under Pressure” (“planeta sob pressão”), o evento foi organizado pelos quatro programas da Organização das Nações Unidas (ONU) voltados para a área ambiental.
Em entrevista ao JC, David fala sobre os principais pontos discutidos e o que espera da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, que será realizada de 13 a 22 de junho
JORNAL CIDADE - A Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa de SP) disse que esse encontro em Londres foi a última chance dos cientistas mudarem o rumo da Rio+20. Quais são, em sua opinião, em linhas gerais, os principais problemas nas agendas de discussões da Rio+20?
David Lapola - As duas grandes discussões da Rio+20 são (1) como implementar o que vem se chamando de Economia Verde e (2) também como inserir de forma mais efetiva a governança ambiental na agenda política dos países. Os dois tópicos são muito amplos, abrangendo não apenas meio ambiente, mas também questões profundamente sociais e econômicas. Corre-se o risco então de não se obterem resultados expressivos da Rio+20, em razão do aspecto generalista dos temas. Umas das discussões paralelas mais fortes é a emancipação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) para o status de Organização Mundial do Meio Ambiente (OMMA), nos moldes da Organização Mundial do Comércio (OMC), o que traria mais poder e independência a esse órgão da ONU. Alguns diplomatas do Brasil já expressaram sua opinião contrária à OMMA alegando, talvez com razão, que as questões de meio ambiente não devem ser tratadas em separado às questões de comércio e desenvolvimento, ou seja, dentro de órgãos já existentes, como a própria OMC e o Programa da Nações Unidas para Desenvolvimento.
JC - Você participou como ouvinte ou com algum trabalho apresentado?
Apresentei dois trabalhos científicos no evento. Um é sobre hot-spots sócio-climáticos no país (ou seja, regiões onde população brasileira estará mais vulnerável às mudanças no clima), e outro sobre impactos das mudanças climáticas sobre agropecuária e desmatamento na Amazônia Legal.
JC - Qual sua expectativa sobre a influência desse evento influenciar positivamente a Rio+20?
Eu gostaria de ter uma melhor expectativa sobre a influência deste evento sobre a Rio+20. Eu me lembrei constantemente de um evento muito similar que ocorreu em Copenhage em março de 2009, cujo objetivo era informar e influenciar as discussões políticas sobre mudanças climáticas que aconteceram lá alguns meses mais tarde. Apesar da alta qualidade do evento e das fortes recomendações feitas pelos cientistas lá reunidos, como já é amplamente sabido, a reunião de cúpula em dezembro de 2009 em Copenhage foi um completo fracasso. O cenário político não é dos melhores agora para a Rio+20, com os países imersos em suas crises financeiras e infelizmente pouco dispostos a fazer concessões em nome do desenvolvimento sustentável. Assim, qualquer surpresa já será um ganho. Mas pessoalmente gostaria que houvesse grandes surpresas.
JC - Outras considerações? Fique à vontade.
Na Conferência Planet Under Pressure em Londres muito se tocou no ponto de termos ações socioeconômico-ambientais não só em âmbito global ou nacional, mas também em âmbito regional e local. E também que melhores condições ambientais podem ser alcançadas, até mesmo de forma passiva, ao se diminuir a desigualdade social entre as pessoas. Acho que Rio Claro ainda tem bastante dever de casa a ser feito tanto no campo ambiental como no social.