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Jornal Cidade (Rio Claro, SP) online

Pesquisador rio-clarense participa de encontro em Londres

Publicado em 14 abril 2012

Pesquisadores de diversas partes do mundo se reuniram na semana passada em Londres no último grande evento científico que antecede a Conferência da ONU no Rio de Janeiro, a Rio+20. Entre os participantes do evento estava o professor e pesquisador do Departamento de Ecologia do campus da Unesp em Rio Claro, David Montenegro Lapola.

 

Intitulado “Planet Under Pressure” (“planeta sob pressão”), o evento foi organizado pelos quatro programas da Organização das Nações Unidas (ONU) voltados para a área ambiental.

 

Em entrevista ao JC, David fala sobre os principais pontos discutidos e o que espera da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, que será realizada de 13 a 22 de junho

 

JORNAL CIDADE - A Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa de SP) disse que esse encontro em Londres foi a última chance dos cientistas mudarem o rumo da Rio+20. Quais são, em sua opinião, em linhas gerais, os principais problemas nas agendas de discussões da Rio+20?

David Lapola - As duas grandes discussões da Rio+20 são (1) como implementar o que vem se chamando de Economia Verde e (2) também como inserir de forma mais efetiva a governança ambiental na agenda política dos países. Os dois tópicos são muito amplos, abrangendo não apenas meio ambiente, mas também questões profundamente sociais e econômicas. Corre-se o risco então de não se obterem resultados expressivos da Rio+20, em razão do aspecto generalista dos temas. Umas das discussões paralelas mais fortes é a emancipação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) para o status de Organização Mundial do Meio Ambiente (OMMA), nos moldes da Organização Mundial do Comércio (OMC), o que traria mais poder e independência a esse órgão da ONU. Alguns diplomatas do Brasil já expressaram sua opinião contrária à OMMA alegando, talvez com razão, que as questões de meio ambiente não devem ser tratadas em separado às questões de comércio e desenvolvimento, ou seja, dentro de órgãos já existentes, como a própria OMC e o Programa da Nações Unidas para Desenvolvimento.

JC - Você participou como ouvinte ou com algum trabalho apresentado?

Apresentei dois trabalhos científicos no evento. Um é sobre hot-spots sócio-climáticos no país (ou seja, regiões onde população brasileira estará mais vulnerável às mudanças no clima), e outro sobre impactos das mudanças climáticas sobre agropecuária e desmatamento na Amazônia Legal.

 

JC - Qual sua expectativa sobre a influência desse evento influenciar positivamente a Rio+20?

Eu gostaria de ter uma melhor expectativa sobre a influência deste evento sobre a Rio+20. Eu me lembrei constantemente de um evento muito similar que ocorreu em Copenhage em março de 2009, cujo objetivo era informar e influenciar as discussões políticas sobre mudanças climáticas que aconteceram lá alguns meses mais tarde. Apesar da alta qualidade do evento e das fortes recomendações feitas pelos cientistas lá reunidos, como já é amplamente sabido, a reunião de cúpula em dezembro de 2009 em Copenhage foi um completo fracasso. O cenário político não é dos melhores agora para a Rio+20, com os países imersos em suas crises financeiras e infelizmente pouco dispostos a fazer concessões em nome do desenvolvimento sustentável. Assim, qualquer surpresa já será um ganho. Mas pessoalmente gostaria que houvesse grandes surpresas.

JC - Outras considerações? Fique à vontade.

Na Conferência Planet Under Pressure em Londres muito se tocou no ponto de termos ações socioeconômico-ambientais não só em âmbito global ou nacional, mas também em âmbito regional e local. E também que melhores condições ambientais podem ser alcançadas, até mesmo de forma passiva, ao se diminuir a desigualdade social entre as pessoas. Acho que Rio Claro ainda tem bastante dever de casa a ser feito tanto no campo ambiental como no social.