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O Imparcial (Presidente Prudente, SP)

Pesquisador do IQ desenvolve nova base para CDs e DVDs

Publicado em 04 maio 2003

Por Liana John/AE
A pesquisa começou com uma tese de doutorado sobre as propriedades dos calcogenetos e rapidamente evoluiu para o desenvolvimento de novos materiais para discos compactos multimídia, como CDs e DVDs. A mudança de curso deve-se a um prêmio, conquistado em 2001, em Bucareste, na Romênia, pelo Grupo de Materiais Fotônicos do Instituto de Química da Unesp, de Araraquara (IQ-Unesp). "Com apenas dois anos de pesquisa ficamos em segundo lugar, num evento onde estavam reunidas equipes que trabalham neste setor há 20 anos", comenta o químico marroquino Younes Messaddeq, coordenador do grupo da Unesp. "A vantagem, acredito, é que somos químicos, enquanto a maioria dos grupos internacionais é de físicos". Com mestrado e doutorado na Universidade de Rennes, da França, Messaddeq veio para o Brasil em 1992, para trabalhar com amplificadores óticos na Telebrás. Em 1999, já na Unesp, orientou a primeira tese de doutorado sobre calcogenetos, descobrindo, durante o evento de Bucareste, que haviam pesquisas para transformar este material no substituto dos atuais polímeros utilizados nos CDs e DVDs. Os calcogenetos se parecem com vidros muito resistentes. Já tem uma durabilidade cerca de 25% maior do que os polímeros e poderão armazenar, com qualidade, uma quantidade de informações 100 vezes maior. "Tudo depende de conseguirmos chegar a um grau de pureza de partes por bilhão (ppb)", diz Messaddeq, explicando que a eliminação das impurezas naturais das matérias primas ainda é o maior desafio a ser vencido. "Estamos montando um sistema, em colaboração com laboratórios russos, de destilação e refundição para chegar a um alto grau de pureza". Hoje, a grosso modo, a perda decorrente de impurezas do material brasileiro é da ordem de 40 decibéis por metro. Os russos prometem reduzir a perda para 0,45 decibéis por quilômetro. Os pesquisadores brasileiros também estão verificando qual a melhor composição de matérias primas. Os grupos internacionais -japoneses e norte americanos, sobretudo - trabalham com telúrio, gálio, germânio e selênio, enquanto, na Unesp, optou-se por gálio, germânio e enxofre. "Não queremos trabalhar com o telúrio porque é cancerígeno", esclarece o coordenador da pesquisa. "Quanto ao melhor tipo de mistura, atualmente estamos com 4 alternativas diferentes e ainda não sabemos qual vai prevalecer". Hoje, o grupo conta com a colaboração do Instituto de Física da Universidade de São Paulo, campus São Carlos, e obteve financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), no valor de R$90 mil para custeio de pesquisa e US$ 120 mil para a compra de equipamentos. A equipe aumentou e envolve cerca de 30 pesquisadores e pós-graduandos. Por enquanto, eles ainda estão concentrados no estudo das características dos calcogenetos e seu comportamento, mas devem iniciar, em breve, as pesquisas mais aprofundadas sobre as aplicações dos materiais. A estimativa é de chegar a algum resultado passível de utilização comercial em 5 anos.