O pesquisador Carlos Nobre do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe/MCT), disse ontem (15), no 1º Workshop sobre Mudanças Climáticas no Nordeste do Brasil, realizado no Instituto de Tecnologia de Pernambuco (Itep), no Recife (PE), que o País vive um momento singular bastante positivo no que diz respeito aos estudos e pesquisas relativas às mudanças climáticas. Ele destacou diversas iniciativas financiadas pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) e pelos governos estaduais, que contribuem para a formulação do Plano Nacional sobre Mudanças Climáticas.
Entre os aprovados na chamada pública do MCT para o financiamento de projetos apresentados pelas redes estaduais e/ou regionais de meteorologia, hidrologia e oceanografia para previsão de clima e tempo e previsão e alerta de fenômenos extremos, está o Projeto sobre Mudanças Climáticas de Pernambuco, a ser desenvolvido pelo Itep, por meio do Laboratório de Meteorologia de Pernambuco (Lamepe), num investimento de R$ 1,54 milhão.
O projeto instalará duas torres de medição de gás carbônico em Petrolina (será reformada uma existente) e Araripina, para análise do bioma Caatinga em ambientes preservado (Petrolina) e degradado (Araripina), com foco nos processos de desertificação em andamento no semiárido pernambucano. Nesta chamada, foram aprovados 10 projetos voltados para estudos de mudanças climáticas e sete para estudos de fenômenos extremos.
Entre as iniciativas financiadas pelo MCT também está a implantação do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas (INCT-MC), reunindo 90 grupos de pesquisa de oito países, e da Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas (Rede Clima), coordenada pelo Inpe. A Rede Clima, a um custo de R$ 10 milhões, é considerada por Nobre "um salto quântico" de investimentos e qualidade em pesquisa sobre mudanças climáticas no Brasil.
Supercomputador
Além disso, o MCT, por meio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), e a Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo (Fapesp) estão investindo R$ 48 milhões na aquisição de um supercomputador com capacidade de processamento efetivo de 15 TFlops (15 trilhões de operações matemáticas por segundo). Esta capacidade é cerca de 50 vezes maior do que a atingida pela aparelhagem hoje utilizada pelo Inpe, e resultará na elaboração de cenários de mudanças climáticas globais muito mais precisos, com altíssima resolução. O supercomputador tem memória de 20 TBytes e capacidade de armazenamento de 400 TBytes.
Todas estas ações objetivam, de forma articulada, servir para o desenvolvimento do Modelo Brasileiro do Sistema Climático Global (MBSCG), o que permitirá o ingresso do País no Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), estabelecido em 1988 pela Organização Meteorológica Mundial e pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) para fornecer informações científicas, técnicas e sócio-econômicas relevantes para o entendimento das mudanças climáticas mundiais.
O Modelo Brasileiro será fruto de estudos a serem desenvolvidos nos próximos cinco anos e utilizará como base o modelo acoplado oceano-atmosférico do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPtec), do Inpe, acrescido de mais cinco componentes, entre eles dados químicos atmosféricos e aerossóis e oceânicos e de gelo marinho.
Rede Clima
A uma platéia formada por meteorologistas de 14 estados Nobre detalhou as ações a serem desenvolvidas pela Rede Clima, que conta com dez sub-redes temáticas: Biodiversidade e Ecossistemas (Museu Emílio Goeldi – PA), Recursos Hídricos (UFPE), Negócios Internacionais (UnB), Energias Renováveis (Coppe-UFRJ), Saúde (Fiocruz-RJ), Modelagem (Inpe), Cidades (Unicamp), Agricultura (Embrapa Campinas), Economia das Mudanças Climáticas (USP) e Erosão em Zonas Costeiras (FURG-RS). Entre as ações estão a geração e a disseminação de conhecimentos e tecnologias; produzir dados e informações, com foco no monitoramento; a realização de estudos sobre os impactos climáticos globais e regionais com ênfase nas vulnerabilidades do País às mudanças climáticas; estudo de alternativas de adaptação dos sistemas sociais, econômicos e naturais do Brasil às mudanças climáticas; pesquisa dos efeitos das mudanças climáticas no uso da terra e nos sistemas sociais, econômicos e naturais; além de contribuição para a formulação do Plano Nacional sobre Mudanças Climáticas.
Análise Climática
Amanhã (17), ocorre a 5ª Reunião de Análise Climática para os setores Norte e Leste do Nordeste do Brasil – 2009, quando será elaborada a previsão climática para maio, junho e julho próximos. Participam meteorologistas e demais pesquisadores de 13 centros estaduais de meteorologia, do MCT, do Inpe, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), da Embrapa, do CPtec e das universidades federais de Pernambuco (UFPE), Rural de Pernambuco (Ufrpe), de Campina Grande (UFCG) e do Vale do São Francisco (Univasf).
Com informações do Itep