Com a crescente expansão da produção científica nacional, pesquisadores brasileiros agora se concentram em um segundo ponto: a qualidade. Segundo especialistas da academia, para disputar eqüitativamente com os países de tradição científica, o Brasil deve centrar seus esforços em publicações de alto impacto, buscando parcerias sólidas com pesquisadores do exterior e financiamento para os estudos. Porém, o baixo impacto e o pequeno número de publicações nas áreas de humanas retomam a questão do idioma como ponto central na discussão.
Para o filósofo e Diretor de Avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Renato Janine, a pesquisa na área de humanas deve se centrar em dois eixos que, segundo ele, não se excluem. O primeiro é a capacitação do quadro docente em línguas estrangeiras. Diferentemente das ciências biológicas e exatas, as humanas não se centram somente no inglês, mas dialogam também em alemão, francês, italiano e espanhol. "O nosso mestre deve ter conhecimentos básicos de uma determinada língua e para o doutorado devemos exigir fluência oral e escrita no idioma", explica.
Em segundo lugar, Janine lembra que, embora as ciências humanas sejam sim de discussão universal, o conteúdo ou objeto estudado dialoga muitas vezes com aspectos regionais de um país e por isso responde às necessidades de uma determinada língua. "A exigência de uma língua comum em pesquisa não pode eliminar a discussão que o pesquisador tem com a cultura dele", explica.
Como exemplo diametralmente oposto, o filósofo cita que os escandinavos, holandeses ou belgas, por exemplo, já nascem tendo a língua inglesa como segundo idioma obrigatório. Enquanto, no Brasil, é perfeitamente possível se estabelecer profissionalmente sem os conhecimentos da língua inglesa. "Entretanto isso realmente dificulta nossa inserção no mercado internacional científico", observa.
Para as ciências exatas e biológicas o inglês se configura de forma diferente. "Para os pesquisadores dessas áreas o inglês é a língua oficial e responde a normas técnicas bastante específicas", informa. Por isso, Janine reitera a importância da proficiência em um idioma, mas no caso das humanas, não necessariamente o inglês. "O que se configura como mais urgente é a participação de brasileiros em círculos internacionais de pesquisa, incentivando a colaboração entre centros e participando de congressos", observa.
Além da dificuldade de participação do pesquisador no cenário internacional, o Brasil enfrenta outro grande problema: a própria dificuldade de se fazer ciência no país. Segundo dados publicados pela Agência da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), na média, o pesquisador latino-americano paga 3,1 vezes a mais nos reagentes, 1,9 vez a mais nos materiais e 1,5 vez a mais em equipamentos que os norte-americanos. Para Janine, é fundamental pensar tanto na área de humanas, quanto nas biológicas e exatas em colaboração internacional.