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Pesquisador da Unesp apresenta evidência de matéria escura na Via Láctea (1 notícias)

Publicado em 11 de fevereiro de 2015

Por José Tadeu Arantes, da Agência FAPESP

Uma prova robusta da existência de matéria escura na região compreendida entre o Sistema Solar e o centro da Via Láctea foi obtida pelo pesquisador Fabio Iocco, do Instituto de Física Teórica (IFT) da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e do Instituto Sul-Americano de Pesquisa Fundamental (ICTP-SAIFR). O artigo Evidence for dark matter in the inner Milky Way, assinado por Iocco e colaboradores, que relata o estudo, foi publicado no site da revista Nature Physics nesta segunda-feira (09/02).

“Obtivemos essa evidência medindo a rotação de nossa galáxia com grande precisão. Por meio da rotação, calculamos sua atração gravitacional. E, a partir da atração gravitacional, chegamos à massa. A massa calculada é maior do que aquela constituída apenas pela matéria luminosa (estrelas e gás). A diferença de massas indica a existência de outro componente material na região, a chamada matéria escura”, explicou Iocco à Agência FAPESP.

Iocco é italiano e está no Brasil com bolsa do programa Jovens Pesquisadores em Centros Emergentes e Auxílio à Pesquisa do mesmo programa.

A hipótese de existir no Universo uma forma desconhecida de matéria – denominada matéria escura pelo fato de sua presença jamais ter sido detectada de maneira direta pelas observações astronômicas – foi formulada nos anos 1970, quando a rotação de gases em torno dos centros de galáxias espirais passou a ser calculada com alta precisão.

Essa medição, no entanto, é difícil de ser feita na Via Láctea pelo fato de estarmos inseridos nela, a aproximadamente meia distância entre a periferia galáctica e seu centro.

“Devido a tal condição, foi, ao longo de todos estes anos, um grande desafio medir a rotação do gás e das estrelas com a precisão necessária. Tal medição é especialmente difícil na região compreendida entre o Sol e o centro da galáxia, onde as estrelas e o gás estão muito concentrados e, assim, contribuem mais para o montante de massa”, disse Iocco.

“Tivemos que compilar dois enormes conjuntos de dados”, detalhou o pesquisador. “De um lado, os indicadores do potencial gravitacional total, da chamada curva de rotação: estrelas, gás e masers [fontes de emissão eletromagnética]. Para isso, compilamos todos os dados registrados na literatura desde os anos 1960. De outro lado, tínhamos a distribuição da matéria visível. Neste caso, como não há, na literatura, pleno acordo sobre a estrutura morfológica da galáxia, levantamos os dados de todos os modelos existentes, em vez de correr o risco de optar pelo modelo errado”.

Segundo Iocco, nenhum desses conjuntos de dados relativos à distribuição da matéria visível é compatível com a curva de rotação calculada. “Esta é uma das razões pelas quais estamos tão seguros de termos provado a existência da matéria escura na região, inclusive dentro do Sistema Solar”, disse.

A composição da matéria escura já foi objeto de muita especulação. Mas o pesquisador prefere não expressar opinião a respeito.

“Isso é algo que não pretendemos responder em nosso artigo. Aliás, nem supusemos a existência de qualquer tipo de matéria escura. Tal evidência veio como resultado dos cálculos. Algum tipo de matéria (isto é, algo que exerça atração gravitacional) e escura (não bariônica, não compacta) deve existir. Os resultados de nossos próximos estudos que empregam os mesmos dados deverão dar respostas mais precisas à distribuição da matéria escura e isso poderá ajudar a determinar a natureza desse componente material, por meio de detecção direta ou indireta”, completou.

Fabio Iocco nasceu em Nápoles, na Itália, e graduou-se na mesma cidade, na Universidade Federico II, onde obteve também seu PhD. Durante o doutorado, permaneceu três anos como pesquisador visitante na Universidade de Stanford, na Califórnia, Estados Unidos. De volta à Europa, trabalhou no Observatório Arcetri, em Florença, Itália, e, depois, em Paris, Estocolmo e Madri, antes de vir para São Paulo.

O artigo Evidence for dark matter in the inner Milky Way (doi 10.1038/nphys3237), de Iocco e colaboradores, pode ser lido no site da Nature Physics em http://www.nature.com/nphys/journal/vaop/ncurrent/full/nphys3237.html

Agência FAPESP