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Atibaia News

Pesquisador alerta para impacto dos fertilizantes nas emissões

Publicado em 15 setembro 2009

Por Fábio de Castro

Agência Fapesp

Diminuir as emissões dos gases de efeito estufa (GEE) que causam o aquecimento global é uma das principais razões para o atual esforço internacional que visa à substituição dos combustíveis fósseis por fontes de energia limpa, como o etanol da cana-de-açúcar. Mas os fertilizantes necessários para a produção do biocombustível podem ter um papel na própria emissão de GEE.

Esse papel do uso de fertilizantes nas emissões precisará ser cuidadosamente estudado para que seja possível compreender o balanço ambiental da cultura canavieira, de acordo com Heitor Cantarella, pesquisador do Instituto Agronômico (IAC), em Campinas (SP), e especialista em fertilidade do solo e adubação.

Cantarella participou, na terça-feira (11/8), do workshop Tecnologias em biocombustíveis e suas implicações no uso da água e da terra, que está sendo realizado em Atibaia (SP) até o dia 12 de agosto. O evento é promovido pelo Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN) e pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) de Biotecnologia para o Bioetanol.

Segundo Cantarella, que é um dos coordenadores do BIOEN, o nitrogênio contido nos fertilizantes utilizados na lavoura de cana-de-açúcar tem papel significativo em relação aos GEE.

"Quando usamos a cana-de-açúcar para produzir biocombustível temos que avaliar o impacto dessa cultura no balanço de GEE. O nitrogênio entra nessa equação porque ao penetrar no solo, por meio de reações microbiológicas, ele provoca a liberação de pequenas quantidades de óxido nitroso, um importante GEE", disse Cantarella à Agência FAPESP.

A intensidade do efeito estufa provocado por cada molécula de óxido nitroso é quase 300 vezes maior do que aquele causado por uma molécula de dióxido de carbono, segundo Cantarella. O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) aponta que cerca de 1% do fertilizante nitrogenado utilizado em plantações acaba sendo enviado à atmosfera na forma de óxido nitroso.

"Mas é importante observar que os números do IPCC são gerais. Existem poucas avaliações sobre a produção do óxido nitroso aplicado à cultura de cana-de-açúcar. É preciso medir, nas condições de produção da cana, qual é a real contribuição da adubação nitrogenada", disse.

De acordo com ele, no caso da cana-de-açúcar, o fato de a adubação nitrogenada ser feita em época relativamente seca cria condições teoricamente pouco favoráveis para a produção de óxido nitroso no solo. Mas a falta de estudos impede uma avaliação precisa. "Esse número precisa ser avaliado na prática", afirmou.

A cultura canavieira continua se expandindo em São Paulo e essa tendência deverá prosseguir. "Apesar da expansão, do ponto de vista ambiental o problema da emissão de óxido nitroso não é tão grande. Por outro lado, ele adquire uma importância crucial quando fazemos um balanço ambiental de uma cultura que tem a mitigação das emissões de GEE entre seus objetivos", disse.

O uso de fertilizantes na cultura de cana-de-açúcar, de acordo com o também presidente do Conselho Curador da Fundação de Apoio à Pesquisa Agrícola, é, em geral, bastante eficiente. Com a mesma quantidade de adubo utilizada em outras culturas, a cana tem uma produção muito maior de biomassa.

"Ainda assim, a cultura de cana-de-açúcar, por sua extensão, responde por uma parcela de 13% a 17% de todo o fertilizante utilizado na agricultura brasileira", afirmou.

Novos desafios

O principal obstáculo à eficiência das práticas de adubação na cultura canavieira no estado diz respeito a mudanças tecnológicas recentes. "Com o aumento das áreas com colheita mecanizada, temos uma grande quantidade de palha na superfície do solo. Isso dificulta a incorporação de fertilizantes, que muitas vezes são deixados expostos. E um dos principais fertilizantes nitrogenados usados nessa cultura, a ureia, está sujeito a grandes perdas por volatilização", explicou Cantarella.

Uma das soluções possíveis para o problema, segundo ele, seria o uso de outra fonte diferente da ureia. "Mas esse tipo de alternativa é mais cara e menos abundante", disse.

Outras soluções viáveis seriam a incorporação mecânica, ou uso de aditivos que reduzissem perdas. "Não temos ainda uma solução prática e econômica bem estabelecida. É um desafio que temos que resolver", afirmou.

Outro tema que necessita mais estudos, aponta, é o papel de determinadas bactérias associadas à cultura da cana na fixação de nitrogênio da atmosfera. Essa alternativa de fixação biológica do nitrogênio poderia reduzir a necessidade de fertilizantes - o que teria grandes impactos ambientais e econômicos.

"Mas a magnitude dessa fixação ainda não está bem estabelecida. Os números da literatura são bastante variáveis. Nosso desafio é estabelecer essa contribuição e descobrir se podemos melhorá-la - seja com a inoculação de microrganismos mais eficientes ou pela seleção de variedades de cana-de-açúcar que respondam melhor ao processo", disse.