Em agosto deste ano, a Fapesp decidiu suspender a concessão de recursos para importação de equipamentos e insumos. A decisão, posteriormente flexibilizada para minimizar estragos nos projetos em andamento, reflete como nem mesmo a agência de fomento mais reputada do país deixa de estar ameaçada com a aguda desvalorização do real.
O orçamento em dólares da Fapesp neste ano é praticamente a metade do que era em 1996, apesar de ter crescido cerca de 30% em reais nesse período de seis anos. E converter as receitas da agência para a moeda americana não é um artifício desprovido de lógica, pois boa parte de seus dispêndios se dá no exterior. A restrição num dos principais sistemas de amparo à pesquisa do país já desperta discussões sobre como poupar e otimizar divisas também nesse setor.
Surgem idéias como a de incentivar o compartilhamento de equipamentos importados por duas ou mais equipes de pesquisadores ou a de criar um sistema informatizado de "compensações" de insumos, para que, por exemplo, o reagente que sobra num determinado laboratório possa ser transferido para outro, no qual o produto está em falta.
Trata-se de iniciativas válidas, típicas de momentos de racionamento, mas que, infelizmente, não têm capacidade de superar a restrição.
Tampouco a substituição de importações, hipótese sempre aventada para contornar a escassez de divisas, tem capacidade de ser tão efetiva nesse setor. O Brasil não é um grande mercado consumidor de equipamentos e insumos para pesquisa e desenvolvimento tecnológico.
Ou seja, para avançar nesse terreno-chave para o desenvolvimento nacional, o Brasil vai ter de recompor sua capacidade de importar. Isso depende fundamentalmente da estabilização do câmbio, via redução da dependência dos capitais financeiros internacionais.
Mas não apenas disso. Soluções mais criativas, como o aproveitamento das divisas conquistadas por meio de inovações desenvolvidas no Brasil, também devem ser estudadas.
(Folha de SP, 18/11)
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