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Pesquisa verifica sobrepeso em crianças menores de 3 anos (1 notícias)

Publicado em 11 de abril de 2014

Uma avaliação nutricional de 358 crianças menores de 3 anos no município de Itupeva, no interior de São Paulo, revelou que quase um terço delas já apresenta excesso de peso, mas apenas 20% das mães têm a percepção do problema. Os dados ainda apontam evidências de atraso no desenvolvimento em 28% e anemia por deficiência de ferro em 38% das crianças avaliadas.

O levantamento foi realizado entre fevereiro e abril de 2013 por pesquisadores da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (USP), coordenados pela professora Elizabeth Fujimori.

A pesquisa, intitulada “Efeito do aconselhamento nutricional da estratégia Aidpi sobre práticas alimentares, estado nutricional e desenvolvimento infantil”, conta com financiamento da FAPESP e da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, no âmbito de um acordo de cooperação firmado pelas duas instituições.

Resultados do estudo foram apresentados em março durante o I Seminário de Pesquisas sobre Desenvolvimento Infantil, realizado na FAPESP.

“Quando os pais não reconhecem o problema [de sobrepeso], levam muito tempo para buscar ajuda. Qualquer alteração na nutrição nessa fase de intenso crescimento pode afetar a criança de forma muitas vezes irreversível. A chance de crescer com excesso de peso e se tornar um adolescente e um adulto obeso e com riscos cardiovasculares aumenta muito”, afirmou Fujimori.

De acordo com a pesquisadora, o estudo tinha o objetivo de avaliar os efeitos do aconselhamento nutricional – por meio da estratégia de Ação Integrada às Doenças Prevalentes na Infância (Aidpi) – sobre a prática alimentar, o crescimento, o desenvolvimento infantil e ainda sobre a capacidade das mães de reconhecerem o estado nutricional das crianças.

“A estratégia Aidpi foi proposta pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) na década de 1990 e implementada em todos os países latino-americanos, mas parcialmente no Brasil. Temos trabalhado com essa estratégia na formação em enfermagem porque ela é muito importante na atenção integral à saúde da crianças”, disse Fujimori.

A pesquisa foi estruturada em três fases. O primeiro passo foi avaliar condições de saúde, nutrição e desenvolvimento infantil, além da prática materna relacionada à alimentação de crianças menores de 3 anos atendidas nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) de Itupeva.

Em uma segunda etapa, os profissionais de saúde foram convidados a participar da capacitação para aconselhamento nutricional por meio da Aidpi adaptada, que incorporou orientações da Estratégia Nacional para Alimentação Complementar Saudável (Enpacs), uma iniciativa governamental que se propõe a qualificar os profissionais da atenção básica a fim de fortalecer as ações de promoção à alimentação complementar no Sistema Único de Saúde.

Um treinamento com carga horária de 24 horas foi realizado com um grupo de enfermeiros. Outros três grupos de auxiliares, técnicos de enfermagem e agentes comunitários de saúde receberam treinamento de 16 horas. Não houve adesão dos médicos convidados.

A capacitação foi realizada entre os meses de setembro de 2013 e janeiro de 2014, com dramatizações e exercícios práticos sobre a temática abordada.

A terceira fase, prevista para ocorrer entre abril e junho de 2014, pretende avaliar o efeito da capacitação em amostra de pares mãe-criança atendidos nas UBS.

Segundo Fujimori, o índice de anemia encontrado no levantamento inicial é muito similar ao de um estudo anterior, de 2001. “Foi uma surpresa ver que os índices continuam altos mais de dez anos depois, apesar de políticas públicas como a da fortificação de farinhas com ferro e a suplementação medicamentosa profilática”, afirmou.

Os resultados preliminares apontam que apenas 45% das crianças na faixa dos 6 a 18 meses recebem a suplementação medicamentosa profilática de ferro como preconizado pelo Ministério da Saúde. Apenas 40% recebem regularmente o medicamento Aditil, que combina as vitaminas A e D. Ambos os suplementos são fornecidos gratuitamente na rede pública. Mesmo com a prescrição desses suplementos, há crianças que podem não usá-los rotineiramente, informou a pesquisadora.

As questões embasaram as capacitações na perspectiva de contribuir para que os profissionais atuem nos serviços de saúde buscando mudanças efetivas nos níveis de saúde infantil no município, disse Fujimori.

Linguagem unificada

Durante o I Seminário de Pesquisas sobre Desenvolvimento Infantil, foi apresentado um outro estudo, em andamento na Escola de Enfermagem da USP, que busca aprimorar a atenção à criança.

Intitulado “Qualificação das práticas do enfermeiro na promoção do desenvolvimento infantil integral”, o projeto é coordenado pela professora Maria de La Ó Ramallo Veríssimo e conta com financiamento da FAPESP e da FMCSV.

“A busca pela padronização da linguagem é algo recente, que está em construção na área de enfermagem. Uma linguagem científica unificada e mais ampla melhora a observação e refina as ações de enfermagem no atendimento a crianças de 0 a 3 anos”, afirmou Veríssimo.

Com base em uma revisão da literatura científica, o grupo propôs uma nova definição para o conceito de “desenvolvimento infantil” e elaborou um catálogo para ampliar a visão do profissional de enfermagem no atendimento realizado na rede de atenção básica à saúde.

“O novo conceito vai além do risco biológico, descrito com frequência na literatura, para abarcar a noção de riscos ambientais ao desenvolvimento infantil, que podem estar relacionados, entre outros, à gestação, ao parto, a doenças mentais maternas ou à falta de recursos para acesso a serviços de saúde”, disse Veríssimo.

O ponto de partida para a revisão do conceito foi a realização de entrevistas com profissionais que trabalham na rede municipal dos municípios de São Carlos, Itupeva, São José do Rio Pardo, Penápolis e Votuporanga. Todos já haviam participado de capacitação promovida pela FMCSV sobre a ampliação de ações de enfermagem, educação, assistência social e saúde em geral na prática de atenção à criança. Nas etapas seguintes, a equipe trabalhou com duas das classificações de Enfermagem mais conhecidas.

A classificação da North American Nursing Diagnoses Association – International (Nanda-I) foi revisada com a participação de 20 enfermeiros experientes na área de saúde da criança e validada por um grupo de especialistas. O trabalho foi realizado no projeto de doutorado de Juliana Martins de Souza.

A revisão da terminologia relativa a diagnósticos, resultados e intervenções no desenvolvimento infantil da Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem (Cipe) – programa do Conselho Internacional de Enfermeiros (ICN, na sigla em inglês) – foi coordenada pela bolsista de doutorado Soraia Matilde Marques Buchhorn. O estudo contou com 84 questionários respondidos por enfermeiros, em duas etapas, e a validação de grupos de especialistas em cada etapa.

As classificações de diagnósticos de Enfermagem relativos ao desenvolvimento infantil foram sistematizadas e ampliadas, considerando impactos do ambiente sobre o desenvolvimento da criança. Outras mudanças importantes foram a distinção entre os conceitos de crescimento e desenvolvimento e a ênfase na promoção do desenvolvimento por meio do estímulo à criança no ambiente familiar.

Dentre os produtos do projeto, haverá um aplicativo novo, que oferece ao profissional de enfermagem os possíveis diagnósticos e a lista de intervenções que devem ser consideradas na elaboração do plano de cuidados, segundo o modelo da Cipe. Também estão em andamento contatos com associações responsáveis pela sistematização e divulgação internacional das classificações revisadas.

Fonte: Fapesp