Estudo aponta o benefício deste tipo de item tanto para quem tem perda auditiva quanto para pessoas com audição normal
O uso de máscaras transparentes durante a comunicação aumenta em cerca de 10% a compreensão da fala tanto entre indivíduos com perda auditiva quanto entre pessoas com audição normal, aponta estudo divulgado na revista Ear and Hearing.
A pesquisa foi conduzida na Universidade do Texas, em Dallas (Estados Unidos), com a participação de Regina Tangerino, professora da Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo (FOB-USP), e apoio da Fapesp.
“Nossos dados mostram que o uso de máscaras transparentes pode facilitar a comunicação para todos, minimizando o estresse e melhorando a interação. Mas, claro, a proteção deve ser a preocupação primária neste momento e, no Brasil, ainda não há nenhum modelo com eficácia comprovada à venda ”, diz Tangerino à Agência Fapesp.
Segundo a pesquisadora, nos Estados Unidos, dois modelos de máscara com visor transparente na região dos lábios já foram certificados pela Food and Drug Administration (FDA, agência de vigilância sanitária norte-americana) e pelo Centro para Controle de Doenças (CDC, na sigla em inglês). "Um dos nossos objetivos é chamar atenção para a importância do tema", afirma a pesquisadora.
Ainda no início da pandemia, em 2020, o grupo disponibilizou na Internet um conjunto de vídeos com 40 minutos de duração, nos quais uma pesquisadora profere diversas sentenças em meio a ruídos de fundo. Parte das frases foi gravada sem máscara, parte com uma máscara transparente na região da boca e parte com uma máscara de tecido opaco. Os 154 voluntários, recrutados por meio de rede social ou e-mail, foram classificados em três grupos: audição normal, suspeita de perda auditiva ou perda auditiva confirmada (com ou sem uso de implante coclear ou aparelhos auditivos). Todos foram orientados a assistir aos vídeos em um local silencioso e a digitar o que tinham entendido após cada frase. Os participantes também tinham de ranquear o nível de confiança ao responder e informar o quanto tiveram de se concentrar para entender o que foi dito. Ao final, o escore de cada voluntário foi calculado.
O percentual médio de acerto das sentenças pronunciadas sem máscara, considerando a média dos três grupos de voluntários, foi de 83,8%. No caso das frases proferidas com máscara transparente, o percentual médio foi de 68,9% — 10% maior do que o das frases proferidas com máscara opaca (58,9%).
“Essa diferença de 10% é estatisticamente significativa e esse benefício pode ser estendido não só para o reconhecimento da fala, pois os participantes se sentiram mais confiantes e fizeram menos esforço para se concentrar quando usavam a máscara transparente. Em outra pesquisa, realizada no Reino Unido com 460 pessoas, os autores observaram que as máscaras opacas afetam a fadiga, a ansiedade e as emoções tanto de quem está ouvindo como de amem está falando”, comenta Tangerino.
Pesquisa feita remotamente com 154 volunt comunicação tanto entre indivíduos com audição normal quanto entre pessoas com perda auditiva participantes. Desse modo, eles não sabiam quais frases foram gravadas com ou sem máscara. “ Nesse caso, o percentual médio de acerto foi menor para as sentenças proferidas com máscara transparente quando comparada com a opaca, confirmando que as pistas visuais foram determinantes para o melhor desempenho no primeiro estudo, superando a degradação do som gerada pelo uso das máscaras ”, conta Tangerino.
PISTA VISUAL
Para ter certeza de que a diferença observada estava relacionada com a pista visual (a movimentação da boca vista pelo visor transparente) e não com questões acústicas (como o fato de um tipo de máscara abafar mais o som do que outro), um segundo teste foi conduzido com 29 voluntários. Nesse caso, somente o áudio dos vídeos usados no primeiro experimento foi enviado aos participantes. Desse modo, eles não sabiam quais frases foram gravadas com ou sem máscara.
"Nesse caso, o percentual médio de acerto foi menor para as sentenças proferidas com máscara transparente quando comparada com a opaca, confirmando que as pistas visuais foram determinantes para o melhor desempenho no primeiro estudo, superando a degradação do som gerada pelo uso das máscaras", conta Tangerino.
A pesquisadora defende que a produção de máscaras transparentes certificadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) seja estimulada no Brasil. Até o momento, somente estão disponíveis no País modelos feitos de vinil, considerados ineficazes para barrar a transmissão do novo coronavírus.
Verifique: Communicating During COVID-19. The Effect of Transparent Masks for Speech Recognition in Noise pode ser lido em https: journals. lw. cometear-hearing/ Abstract/9000/Communicating During COVID 19 The Effect of.98518. aspx.