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Diário da Manhã (Recife, PE) online

Pesquisa usa técnica molecular inovadora e descobre novos candidatos vacinais contra a esquistossomose (13 notícias)

Publicado em 09 de janeiro de 2024

Aplicando uma técnica inovadora da biologia molecular ainda pouco adotada no Brasil, pesquisadores descobriram alvos do parasita Schistosoma mansoni que podem ser eficazes como candidatos vacinais contra a esquistossomose.

Conhecida como barriga d’água, a esquistossomose é considerada uma das 17 doenças tropicais negligenciadas (DTNs) no mundo, afetando cerca de 200 milhões de pessoas em 74 países, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil estima-se que sejam 6 milhões de infectados, principalmente em Estados do Nordeste e em Minas Gerais.

Os cientistas usaram a técnica conhecida como phage display – que consiste em trabalhar com vírus (chamados de fagos) que se proliferam em bactérias como vetores para expressar peptídeos ou proteínas do parasita. Com isso, foi possível expressar 99,6% de 119.747 peptídeos do parasita, atingindo uma cobertura abrangente do proteoma do Schistosoma mansoni.

O resultado do trabalho, publicado na revista NPJ Vaccines, do grupo Nature, é uma sequência de outro estudo que havia desvendado o mecanismo pelo qual macacos rhesus (Macaca mulatta) desenvolvem naturalmente uma resposta imune duradoura contra a doença. Essa resposta leva à autocura após um primeiro contato com o Schistosoma e possibilita que o organismo do animal reaja rapidamente a uma segunda infecção – isso por meio da inibição, pela defesa imune do primata, de certos genes do parasita (leia mais em: agencia.FAPESP.br/37161).

“O phage display não havia sido utilizado com esse objetivo para uma doença parasitária. Normalmente, nesses casos, as pesquisas pré-selecionam alguns alvos para testá-los como candidatos vacinais. Nesse trabalho, olhamos para as 12 mil proteínas do Schistosoma ao mesmo tempo e identificamos quais foram alvejadas pelos anticorpos dos macacos, seja após a infecção inicial ou reinfecção e autocura, o que é um diferencial. A técnica e o modelo do estudo são inovadores”, afirma o pesquisador Murilo Sena Amaral, do Laboratório de Ciclo Celular do Instituto Butantan.

Amaral é autor do artigo ao lado do professor Sergio Verjovski Almeida, também do Instituto Butantan e professor do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (IQ-USP).