Os institutos de pesquisa brasileiros estão diante de um verdadeiro impasse. Com os orçamentos reduzidos, a queda do suporte dado pelo Estado, a situação deplorável de suas bibliotecas e laboratórios eles agora têm de sobreviver dentro do ambiente altamente competitivo da economia mundial. Essa nova ordem, que certamente vai desencadear uma mudança de paradigma da maioria desses institutos criados no início da década de 70, não está mais disposta a esperar dez anos entre o início do desenvolvimento de um produto e a sua entrada no mercado. Os institutos devem ganhar agilidade e também aprender a atrair novos clientes que garantam o aumento de suas receitas. Para isso, contudo, eles devem mostrar o quanto podem ser úteis para o setor produtivo e passar a vender conhecimento cada vez mais aplicado. O único consolo talvez seja o fato de esse cenário não ser exclusivo dos institutos brasileiros, mas ser um mal que está atingindo o mundo científico inteiro.
Essas são algumas das questões que estão sendo discutidas durante o seminário internacional "O Papel dos Institutos de Pesquisa em Tecnologia Industrial", organizado pela Associação Brasileira dos Institutos de Pesquisa Tecnológica e pelo o Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT), em São Paulo. Na sessão de abertura, ontem de manhã no anfiteatro do IPT, os componentes da mesa enfatizaram a necessidade de inserir os institutos de pesquisa no processo de reestruturação da política industrial brasileira.
MAIS COMPETITIVIDADE
"Os institutos devêm ter autonomia para conseguir vender produtos e serviços com preços e qualidade competitivos no atual mercado", disse o representante do Ministério de Ciência e Tecnologia e secretário executivo do ministério, Lindolpho de Carvalho Dias.
Para o presidente da ABIPTI, Roberto Villas Boas, o maior desafio está na aplicação do conhecimento para a solução dos problemas dos setores industriais, papel esse que era desempenhado pelas empresas de engenharia consultiva que desapareceram no Brasil. "Estamos capenga de engenharia, não produzimos tecnologia aplicada", diz.
Villas Boas declarou a este jornal que existem hoje no Brasil cerca de 100 institutos de pesquisa que controlam um orçamento anual total em torno de US$ 800 milhões. A maioria possui cerca de quinze a vinte anos de idade. O total de bens produzidos e serviços prestados ao longo desse tempo é avaliado em torno de US$ 100 bilhões. Também presente na cerimônia de abertura do seminário, o secretário estadual de Ciência. Tecnologia e Desenvolvimento Econômico, Emerson Kapaz, que indicou como solução para o impasse dos institutos de pesquisa a parceria com a iniciativa privada. "O desafio é mudar a mentalidade do empresariado para despertar a importância em investir em ciência e tecnologia."
A secretaria também firmou recentemente dois convênios internacionais de cooperação tecnológica com os Estados Unidos. Um com a universidade de Harward, para o treinamento de profissionais que trabalharão na Hidrovia Tietê-Paraná, e outro com o Massachusetts Institute of Technology, para a criação de um novo centro tecnológico responsável pela articulação das instituições de pesquisa com os setores empresariais.
Notícia
Gazeta Mercantil