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Agência C&T (MCTI)

Pesquisa revela o declínio alimentar do brasileiro (1 notícias)

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Agência Fapesp

São Paulo - Uma pesquisa feita na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP) põe em evidência importantes mudanças no padrão de consumo alimentar. Os resultados atestam que, nas últimas três décadas do século XX, houve um declínio no consumo de alimentos básicos, como cereais e derivados, e de frutas e hortaliças, ao passo que se verificou um aumento da participação de alimentos de baixo teor nutricional, como biscoitos e refrigerantes.

O estudo analisou a disponibilidade de alimentos em domicílios da cidade de São Paulo, e não o consumo propriamente dito. Foram utilizados dados das Pesquisas de Orçamento Familiar (POF), realizadas pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da USP (Fipe) em dois períodos distintos: de 1971 a 1972 e de 1998 a 1999. Ambas as pesquisas mapearam a região urbana do município. As amostras das POF se referem a um universo de 2.380 domicílios (10.418 indivíduos) e de 2.351 domicílios (7.980 indivíduos), respectivamente. "As mudanças verificadas na disponibilidade domiciliar de alimentos em São Paulo entre as décadas de 1970 e 1990 têm aspectos positivos como um melhor acesso aos alimentos e seu barateamento em relação ao salário das famílias e negativos como o consumo excessivo e desbalanceado de calorias ", disse Rafael Moreira Claro, doutorando na Faculdade de Saúde Pública da USP e um dos autores do estudo, cujos resultados foram publicados em artigo na Revista de Nutrição.

De acordo com o pesquisador, na prática se pode fazer uma associação entre o padrão de alimentação e as doenças de determinada população. "O que se viu, desde a última metade do século XX, foi uma gradativa substituição dos problemas associados ao consumo insuficiente de alimentos, como a desnutrição, por aqueles associados ao consumo excessivo e desbalanceado, como a obesidade e as doenças cardiovasculares", explicou.

O amplo período compreendido entre as POF possibilitou confirmar tendências, como a substituição do consumo de manteiga por margarina, e a expansão na disponibilidade de alimentos processados, que registraram aumento de 500% para doces, 300% para refrigerantes e de 400% para biscoitos, itens pouco comuns nos mercados na década de 1970.

O estudo constatou ainda um aumento na disponibilidade de alimentos de origem animal, como carnes e leite. O resultado é semelhante ao encontrado em diferentes áreas metropolitanas no Brasil, mas São Paulo apresentou maior participação de gorduras totais e menor percentual energético de carboidratos.

Ingestão de vitaminas caiu

De acordo com os resultados da pesquisa, a participação do ferro se manteve estável devido, em grande parte, ao aumento do consumo de alimentos de origem animal, como a carne bovina. Contudo, o estudo aponta um decréscimo na quantidade de vitaminas, principalmente a vitamina C, e folato, ausência atribuída à diminuição na participação de frutas, verduras e legumes na dieta. Para Moreira Claro, que participou da pesquisa, a análise da evolução dos padrões alimentares da população propicia subsídios para melhor compreender o assunto e implementar políticas públicas mais eficazes. Segundo ele, ações individualizadas para combater as doenças geradas pela obesidade parecem surtir pequeno efeito. Imposição de taxas a alimentos não saudáveis ou ainda isenções fiscais que barateiem alimentos saudáveis são algumas das opções discutidas.

"Medidas como a proibição da venda de alimentos não saudáveis em creches e escolas, avanços quanto à rotulagem de alimentos e a inserção de temas relacionados à educação nutricional nas escolas têm se mostrado satisfatórios", destacou Rafael Moreira Claro.