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Pesquisa revela novo fator de risco de Covid-19 em obesos (56 notícias)

Publicado em 15 de julho de 2024

No início da pandemia de Covid-19, um grupo de pesquisadores brasileiros mostrou de forma pioneira por que a infecção pelo SARS-CoV-2 tende a ser mais grave em pacientes diabéticos.

Agora, a mesma equipe, sediada no Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (IB-Unicamp), descobriu um dos motivos pelos quais pessoas com obesidade que não têm diabetes ou resistência à insulina também apresentam risco aumentado de desenvolver formas graves da doença.

“Novos experimentos mostram que os mecanismos moleculares são bem diferentes nos dois casos”, revela Pedro Moraes-Vieira, professor do IB-Unicamp e coordenador da investigação, em entrevista à Agência FAPESP.

A pesquisa é apoiada pela FAPESP por meio de dois projetos (20/16030-0 e 20/04579-7) e também está vinculada ao Centro de Pesquisa em Obesidade e Comorbidades (OCRC) – um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) sediado na Unicamp.

Os dados foram apresentados no dia 29 de junho, durante a FAPESP Week China, em um painel dedicado a temas de saúde e biomedicina. Participaram da sessão Zhang Zhiyong, da Universidade de Medicina de Guangzhou; Luciana Cezar de Cerqueira Leite, do Instituto Butantan; Xin Jin, cientista-chefe de Pesquisa da empresa chinesa BGI; e Dan Zhang, cofundador da Hillgene BioPharma, também da China. Os mediadores foram Xin Jin e Simone Appenzeller, da Unicamp.

Em um artigo publicado em maio de 2020, o grupo da Unicamp mostrou que, em diabéticos infectados pelo SARS-CoV-2, o teor mais alto de glicose no sangue é captado por um tipo de célula de defesa conhecido como monócito. Essa glicose extra serve como fonte de energia, permitindo ao vírus replicar-se mais do que em um organismo saudável. Em resposta à carga viral crescente, os monócitos liberam uma grande quantidade de citocinas, proteínas com ação inflamatória, causando uma série de efeitos, como a morte de células pulmonares. Os pesquisadores também relataram que, nos pulmões de pacientes com Covid-19 grave, monócitos e macrófagos eram as células mais abundantes, com a via glicolítica – responsável pelo metabolismo da glicose – bastante aumentada nesses leucócitos.

Já o trabalho mais recente, cujos resultados devem ser publicados em breve, mostra que, em pessoas obesas não diabéticas, o quadro de hiperinflamação está relacionado a níveis elevados de ácidos graxos saturados no sangue, principalmente o palmitato. Conhecido como ácido palmítico, ele é o principal componente do óleo de palma e está presente na carne bovina, no leite e seus derivados.

“Por meio de experimentos in vitro, observamos que o palmitato promove uma pré-ativação das células da imunidade inata, que ficam em estado de alerta, prontas para responder de forma mais intensa se detectarem uma ameaça. Quando infectamos essas células pré-ativadas com o SARS-CoV-2, elas produzem uma quantidade muito aumentada de citocinas inflamatórias”, relata Moraes-Vieira.

A descoberta desses diferentes mecanismos moleculares pode abrir caminho para abordagens terapêuticas mais eficazes no tratamento da Covid-19 em pacientes diabéticos e obesos, considerando as especificidades de cada condição.