Notícia

Conexão Safra

Pesquisa revela índices negativos de saúde e bem-estar mental entre profissionais de saúde na pandemia (21 notícias)

Publicado em 08 de janeiro de 2023

Por Agência FAPESP

Profissionais de saúde brasileiros da rede pública apresentam indicadores negativos de saúde e bem-estar mental na pandemia de Covid-19. Segundo estudo da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), 86% sofrem com burnout e 81% com estresse. Má qualidade de sono, sintomas depressivos e dores pelo corpo também foram frequentemente reportados. Por outro lado, a maioria desses profissionais vê grande sentido nos serviços que prestam à sociedade.

“No momento temos uma fotografia da situação, o que não nos permite afirmar que a pandemia é responsável pelos resultados encontrados. Mas acreditamos que o impacto especialmente pesado da Covid-19 no país contribuiu para índices tão ruins”, argumenta Tatiana de Oliveira Sato, professora do Departamento de Fisioterapia e do Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia da UFSCar. “Acreditamos que a pandemia influenciou negativamente esses resultados. A sobrecarga no trabalho, as decisões difíceis e os dramas vivenciados afetaram consideravelmente os profissionais de saúde, especialmente os que atuaram na linha de frente”, diz Sato. No artigo publicado, os autores escrevem que o Brasil é a nação com maior número de mortes entre profissionais de saúde.

“A ideia original da pesquisa surgiu pouco antes da Covid-19. Mesmo fora do contexto da pandemia, esses profissionais lidam com muitas demandas e responsabilidades e queríamos avaliar o efeito disso no bem-estar físico e mental”, relata a pesquisadora. “Mas, com a chegada do SARS-CoV-2, o projeto acabou mensurando o efeito da emergência sanitária na saúde desses trabalhadores”, completa.

Ainda em andamento, o projeto teve a análise de sua primeira coleta de dados publicada no periódico científico Healthcare. A iniciativa como um todo tem o apoio da Fapesp e está em fase final de coleta e análise dos dados.

Mudança de rumos Originalmente, os pesquisadores entrevistariam os voluntários in loco – a princípio, todos seriam funcionários do Sistema Único de Saúde (SUS) localizados em São Carlos, interior paulista. No entanto, os trâmites necessários para iniciar a pesquisa de campo foram superados entre o fim de 2020 e o início de 2021 – quando a pandemia assolava o país todo e as vacinas haviam sido aplicadas em uma minoria da população.

“Diante disso, criamos um formulário on-line e ampliamos a busca por respondentes para o Brasil inteiro”, conta Sato. “Os critérios de inclusão eram trabalhar no SUS, ter mais de 18 anos e estar envolvido diretamente com a assistência aos pacientes”, complementa.

Esse formulário foi divulgado via redes sociais, e-mails e até pela imprensa. Ele reunia cinco questionários diferentes, cada um voltado para quantificar um aspecto da vida dos trabalhadores. Entre eles, o Copenhagen Psychosocial Questionnaire (que mensura os aspectos sociais e psicológicos), o Pittsburgh Sleep Quality Index (que estima a qualidade do sono), o Nordic Musculoskeletal Questionnaire (responsável por avaliar problemas musculoesqueléticos) e o Beck Depression Inventory (que detecta sintomas depressivos).

No total, o formulário continha dez páginas. “Nós estimamos que, para responder todas as perguntas, uma pessoa gaste de 20 a 30 minutos. E o questionário só era incluído na pesquisa quando preenchido por completo”, reitera Sato. Além disso, equipamentos que medem a quantidade de atividade física foram utilizados pelos respondentes locais para compor as avaliações.

Ao final, 125 profissionais de saúde participaram do levantamento, que teve a primeira fase de coleta de dados entre junho de 2021 e abril de 2022. Os dados publicados até o momento se referem à primeira avaliação – o baseline – e ainda não contam com informações sobre a atividade física. Mas o projeto incluiu outros quatros momentos de avaliação: aos três, seis, nove e 12 meses após a primeira coleta.

“Nós batizamos essa coorte de Heroes. Aliás, pensamos bastante no nome, porque não queríamos que o termo fosse entendido como uma analogia de que os profissionais de saúde são super-humanos, que não cansam nem se abalam. Nossa proposta com esse nome era, na verdade, homenagear e chamar a atenção para a necessidade de valorização dos trabalhadores, que foram tão fortemente atingidos pela pandemia”, revela Sato. Ao final, cerca de 60 respondentes participaram de todas as etapas.

Os primeiros achados Os dados apresentados no artigo já publicado destacam uma alta prevalência de sintomas musculoesqueléticos: 64% reportaram dores no pescoço, 62% nos ombros, 58% na coluna torácica e 61% na lombar. De acordo com Sato, a própria rotina do trabalho – longas horas em pé, manuseios de pacientes, ritmo de trabalho acelerado e por aí vai – ajuda a explicar esses dados. “Mas a sobrecarga mental também é capaz de disparar esses desconfortos pela tensão que provoca no corpo”, acrescenta.