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O Diário (Mogi das Cruzes)

Pesquisa recupera área degradada (1 notícias)

Publicado em 16 de abril de 2008

Por Karina Matias

Embaúba, aroeira mansa, corticeira (mulungu) e Hydrocotile. Pesquisadores da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC) verificaram que estas plantas podem ser utilizadas na recuperação de terrenos contaminados por metais pesados. A conclusão ainda é preliminar e faz parte do estudo "Recuperação da Biodiversidade de uma área de Mata Atlântica contaminada por metais pesados: Uma proposta de Biorremediação". O trabalho foi iniciado há cerca de um ano em uma área de 48 hectares (48 mil metros quadrados), onde funcionou a Mineração Geral do Brasil, e posteriormente, a Companhia Siderúrgica de Mogi das Cruzes (Cosim), na Vila Industrial.

Coordenado pela professora especialista em microbiologia, Elisa Esposito, o objetivo do trabalho é avaliar o impacto dos metais pesados na fauna e flora do local, além de a partir desta análise, propor a remediação do terreno e de outras áreas contaminadas de forma semelhante, utilizando espécies nativas de plantas e microorganismos.

"Já percebemos que aqui, naturalmente está havendo uma recuperação. Tem algumas plantas nativas em crescimento novamente, como a embaúba.", destaca Elisa.

Além de coordenadora, a bióloga é responsável pela área de microorganismos da rizosfera (região do solo influenciada pela raiz, que tem importante papel na nutrição da planta), visando a aplicação em fitorremediação. "A idéia é melhorar a associação de microorganismos na planta para a descontaminação acontecer de forma mais eficiente. Ou seja, formas para acelerar essa recuperação", pontua.

O projeto, que será finalizado em um ano, envolve cerca de 25 profissionais, entre professores e alunos da UMC, tanto de graduação (dos cursos de Biologia e Química) como de pós-graduação em Biotecnologia.

No momento, o grupo ainda está na fase de coleta e mapeamento da fauna e flora do local. São analisados diversos aspectos, desde a parte físico-química, identificação das plantas e artrópodes (formigas e borboleta) até a ecologia.

O biólogo Fabio Fernando Carvalho Silva, por exemplo, faz o levantamento dos anuros (sapos, rãs e pererecas) presentes no local. Posteriormente, ele irá analisar a quantidade de metais pesados encontrados no fígado e gônadas (aparelho reprodutor).

Já o professor e mestrando Fernando Claret, desenvolve seu trabalho de mestrado sobre as plantas que apresentam a característica de acúmulo de metais. Ele destaca que a biorrecuperação é uma tendência mundial, utilizada em países como Estados Unidos, por ser um modelo mais econômico.

O projeto, que é financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisado Estado de São Paulo (Fapesp), conta ainda com a participação dos professores André Fernando Oliveira e Astréia de Souza, Welington Araújo, Maria Cecília Brandt, Maria Santina de Castro Morine e Vitor Oliveira de Miranda.

Contaminação

No terreno da antiga Cosim, são encontrados dois tipos de contaminação: metais pesados (níquel, zinco, ferro, manganês) resultantes do processo de produção do aço; e a moinha do carvão, o pó do produto que era enterrado no solo. Toneladas de moinha foram despejadas na área, quando ainda não se tinha uma consciência ambiental.

Após a massa falida da Cosim ter sido vendida para uma empresa de cimento do Mato Grosso, 46 mil toneladas de moinha (1,3 mil caminhões cheios) foram retiradas do local. Restaram alguns poucos focos, segundo o gerente regional da Cetesb, Edson Santos.

Os resíduos são classificados como de Classe 2 A: se decompõem, mas não são perigosos.

O problema da área, entre tanto, é que como é aberta, muitas pessoas despejam lixo no local e colocam fogo. "E, como é um pó, o fogo fica por debaixo do solo", explica. Sem ser visível, muitas pessoas já se queimaram ao pisar em alguns pontos do terreno, enquanto ocorre a queima.

Por tudo isso, a Cetesb acompanha o caso e já multou as empresas proprietárias do espaço. (Leia mais nesta página).

Estudo sugere parque no local

Para os pesquisadores da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC), o ideal é transformar a antiga área da Cosim em um parque de educação ambiental. Desta forma, seria possível recompor toda a mata nativa do local. "Seria um ganho tanto em nível ambiental, como de lazer para a população e pesquisa para as escolas e universidades da Região", pontua a pesquisadora Elisa Esposito, coordenadora do projeto.

Além da contaminação por metais pesados, o terreno de 48 mil metros quadrados, na Vila Industrial, é degradado por lixos e entulhos despejados no local. "O local é abandonado", complementa.

Fernando Claret, um dos pesquisadores, já desenvolveu um projeto de implantação de um parque. Segundo ele, juridicamente este parque já existe (é chamado de Nagib Najar), mas ainda não se tornou realidade por conta da contaminação.

Atualmente, há um impasse jurídico no local. No passado, a Prefeitura desapropriou a área, passando a ser sua proprietária. Posteriormente, entretanto, parte do terreno foi doada à quatro empresas, que hoje é disputado na Justiça.

A Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) notificou estas empresas a recuperarem o local. Como nada foi feito, elas foram multadas em um total de R$ 44, 640, 00.

A Cetesb continua acompanhado o caso e informa à Administração Municipal do depósito de lixos. "Tem se verificado no local, que são despejados lixos domésticos, que são de responsabilidade da Prefeitura", aponta Edson Santos, gerente regional da Cetesb.

O Departamento de Meio Ambiente da Prefeitura de Mogi das Cruzes informou que o processo de recuperação das áreas está em fase de recurso no Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Sobre um possível isolamento da área, sugestão dos pesquisadores, a informação é de que o terreno pertencente à Prefeitura se encontra em um trecho central."Ou seja, cabe às empresas proprietárias das extremidades fazer as cercas. Temos de ressaltar que a contaminação do terreno foi proveniente da atuação da antiga empresa Cosim e que a área já apresentava problemas quando foi recebida pela Prefeitura", informou o Departamento. (K.M.)

Na época da Mineração, os danos ao ambiente

Foi ainda na década de 40, que os mogianos assistiram à chegada de uma grande siderúrgica na Cidade: a Mineração Geral do Brasil. Fruto do ambicioso projeto da família Jafet, que de tinha um poderoso grupo econômico de São Paulo, a indústria marcou a fase moderna de progresso e desenvolvimento de Mogi, com influências nos campo social, cultural, econômico e político do Município.

Em sua fase áurea, a Mineração chegou a ter mais de 3 mil trabalhadores, a grande maioria de Minas Gerais. Os funcionários deram origem a Vila Jafet, posteriormente chamada de Vila Industrial.

Sem o planejamento adequado, o sonho dos Jafet começou a virar pesadelo com a morte do estadista Getúlio Vargas, muito ligado à família. A derrocada veio com o golpe militar de 64. O salário dos funcionários começou a atrasar. O problema provocou um verdadeiro colapso no comércio da Cidade, que era responsável por boa parte do dinheiro circulante em Mogi.

Em fevereiro de 1967, o governo federal resolveu intervir na empresa entregando à Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), pertencente ao próprio governo na ocasião. O intuito era promover a reabilitação técnica da usina em Mogi, formular programas de investimentos e criar a comissão organizadora da Companhia Siderúrgica de Mogi das Cruzes (Cosim), fundada em 1968. Ao invés de sanar as dívidas e devolver ao capital privado, a estatal não recebeu qualquer investimento ou modernização.

Virou sucata e foi vendida assim no final dos anos 80, tendo suas ruínas implodidas em 1998 para dar lugar a novas empresas na região da Vila Industrial.

Por outro lado, o ponto ainda sente os reflexos de anos de degradação ambiental.

Na época da Cosim e da Mineração, não havia qualquer preocupação ambiental e resíduos da produção do aço eram despejados na área de Mata Atlântica, que hoje pesquisadores da UMC tentam recuperar.(K.M)