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Pesquisa paulista aponta morcegos como prováveis hospedeiros do SARS-CoV-2 (21 notícias)

Publicado em 07 de agosto de 2022

Um modelo matemático desenvolvido na Universidade de São Paulo (USP) com apoio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) confirmou os morcegos como os mais prováveis hospedeiros do SARS-CoV-2 e pode ajudar a prever animais que podem ser repositórios de novos coronavírus. Os resultados foram publicados na revista Scientific Reports e divulgados esta semana pela agência de notícias da Fapesp. De acordo com a matéria, de André Julião, os pesquisadores esperam que o modelo possa ser usado no caso de novas emergências de vírus da mesma família, uma vez que ele também foi capaz de apontar os hospedeiros de outros coronavírus como o SARS-CoV e o MERS, que causaram surtos em 2003 e 2012, respectivamente.

"Conhecer o primeiro hospedeiro do vírus é muito interessante no direcionamento da pesquisa mais básica e na vigilância de novos vírus. Os modelos de aprendizado de máquina funcionam muito bem e são relativamente baratos de se produzir, mas dependem muito dos dados disponíveis. Por isso, é vital que se fomente o estudo de novos vírus, coletando amostras de animais selvagens, sequenciando os genomas virais e disponibilizando-os em bancos de dados públicos", diz Marielton dos Passos Cunha, que realiza estágio de pós-doutorado na Plataforma Científica Pasteur-USP (SSPU, na sigla em inglês), outro coautor do estudo.

Cruzamento de informações

"Cruzamos informações da proteína S, a espícula [a parte que se liga ao receptor humano ou animal] de diferentes coronavírus num modelo de aprendizado de máquina. Chegamos ao morcego como o mais provável hospedeiro inicial do SARS-CoV-2", conta Irina Yuri Kawashima, primeira autora do trabalho, realizado como parte de seu doutorado no Programa Interunidades em Pós-Graduação em Bioinformática sediado no Instituto de Matemática e Estatística (IME) da USP.

Alerta para vigilância

"O resultado é um alerta para a necessidade de uma maior vigilância em relação ao surgimento de novos vírus. O desmatamento e as mudanças climáticas, entre outras causas, podem nos expor ao contato com vírus que infectam animais e que podem passar a infectar humanos", afirma Ronaldo Fumio Hashimoto, professor do IME-USP apoiado pela FAPESP e coordenador do estudo.

Pandemia da covid-19

Segundo o pesquisador, o trabalho é corroborado por estudos recentes, como um publicado no ano passado na revista PLOS Pathogens. O artigo também aponta o morcego como melhor candidato a hospedeiro do coronavírus que desencadeou a pandemia de COVID-19. "Esperávamos que o modelo apontasse primeiramente para os humanos como hospedeiros iniciais, até porque as amostras de SARS-CoV-2 que utilizamos eram na maioria isoladas de humanos. Mas os coronavírus coexistem com os morcegos há muito tempo. Ainda que eles saltem para outro hospedeiro, demora muito para que aquele se consolide como o principal reservatório do vírus", diz Kawashima.