Estudo mostra que proteção a vegetal gera recompensas; já escassez de nutrientes provocaria comportamento agressivo
Biólogos do Programa de Pós-graduação em Zoologia da Universidade Estadual de Feira de Santana (BA) e da Universidade Federal de São Paulo analisaram as interações entre 100 plantas da espécie Turnera subulata -popularmente conhecida como boa-noite, chanana ou flor-do-guarujá - e 13 espécies de formigas que são atraídas pelas plantas. A observação mostrou que a defesa realizada por estes insetos pode ser afetada pela disponibilidade de alimento no ambiente.
A pesquisa se iniciou com um estudo de mestrado de Felipe Passos, orientado por Laura Carolina Leal. Com estudos realizados no sertão da Bahia, já se sabia que as plantas realizavam interações chamadas de mutualismo. A pesquisadora explica que são interações entre indivíduos de espécies diferentes na qual os dois lucram, de forma similar às interações comerciais na sociedade humana. “No caso específico do nosso estudo, as plantas ofertam néctar em regiões das flores que atraem formigas. Elas, por sua vez, terminam por defender as plantas contra herbívoros”, disse Laura.
Como em toda relação comercial, a variação entre oferta e demanda de serviços, porém, pode fazer com que os mais necessários fiquem mais caros. “Quando o recurso que uma espécie 'A' oferta é mais raro de ser obtido na natureza, a espécie 'B', que depende dele, tende a compensar mais o parceiro que o ofertá-lo”, explica Laura.
Foi partindo dessa hipótese que os pesquisadores decidiram investigar se formigas defenderiam melhor as plantas quando os recursos que elas recebem como retribuição pela defesa fossem mais escassos no ambiente. E as descobertas surgiram logo no início dos trabalhos.
Além de a formiga acessar a planta e receber o néctar como uma recompensa pela ajuda prestada, ela também estaria ganhando nessa relação ao devorar “inimigos” da planta, insetos que apresentam uma grande parte de proteína. “Assim, elencamos uma segunda hipótese de que a disponibilidade de proteína no ambiente também poderia regular o quanto a formiga defende a planta”, explica a pesquisadora.
Os resultados contrastaram com todo o conhecimento que havia na literatura até então e mostraram uma variação no comportamento das formigas. Uma vez que a elas precisam de proteína e do néctar na dieta para manter as colônias, os pesquisadores ofertaram iscas para medir os comportamentos na divisão dos alimentos e observaram que poderiam morder, se empurrar e até liberar ácido.
O estudo pretendia analisar uma hipótese, que constatou: “As formigas que defendem alimento de forma mais agressiva, também defendem melhor as plantas contra os herbívoros. Por isso, usamos esse método”, define a pesquisadora.
Apesar de o estudo ter sido realizado com uma planta específica, ela é encontrada em praticamente todos os terrenos baldios e estava disposta em 20 locais diferentes. Os pesquisadores ainda estimam que cerca de três mil espécies no mundo apresentem estruturas semelhantes. Apesar de a planta ou a formiga conseguiria sobreviver sem o mutualismo, compreender essa associação é uma forma de verificar como o desenvolvimento é sempre melhor quando ele existe.
“As plantas têm menos folhas danificadas, realizam mais fotossíntese e, consequentemente, têm um melhor desempenho. Já as colônias, ganham alimento tanto para as formigas adultas quanto para as em desenvolvimento. Assim, as colônias também tendem a se desenvolver melhor quando interagem com essas plantas”, explica Laura.