Tese de doutoramento defendida recentemente por Adna Prado Massarioli no programa de Pós-graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), comprovou que a cultivar BR1 de amendoim, desenvolvida pela Embrapa, apresentou maior teor de compostos fenólicos e melhor desempenho no sequestro de três espécies reativas: radical superóxido, radical peroxila e peróxido de hidrogênio.
Estes compostos estão mais presentes na película dessa oleaginosa e são capazes de sequestrar moléculas reativas que estão relacionadas com doenças como câncer e diabetes, por exemplo.
A pesquisa de Massarioli comprovou estudos anteriores que apontam o amendoim como um alimento funcional, que possui, além das suas propriedades nutricionais básicas, compostos fenólicos que atuam positivamente no organismo e produzem efeitos no metabolismo e nos processos fisiológicos, beneficiando a saúde.
O título da tese é “Propriedades funcionais em genótipos de amendoim adaptados ao semiárido: capacidade de desativação de espécies reativas do oxigênio e acessibilidade de polifenóis” e foi orientado pelo professor Severino Matias de Alencar. O trabalho de investigação foi coorientado pela pesquisadora da Embrapa Algodão Roseane Cavalcanti dos Santos, com apoio da pesquisadora em Biologia Molecular e supervisora do Laboratório de Biotecnologia da mesma instituição, Liziane Maria de Lima.
“O amendoim é considerado um alimento de alto valor nutricional devido aos seus teores em óleo e proteína, além disso, é comprovadamente um alimento funcional por disponibilizar componentes bioativos, como os compostos fenólicos, que previnem danos causados por espécies reativas de oxigênio (EROs)”, informa Massarioli.
Bioatividade
Quando são encontradas em excesso no organismo, as EROs são consideradas fator de risco para o início e progressão de diversas doenças. “O presente trabalho trouxe novas informações da bioatividade em genótipos de amendoim, especialmente a respeito de cultivares tolerantes ao estresse hídrico, como o genótipo BR1 que possui larga adaptabilidade ao semiárido. Além do mais, este estudo confirmou o aspecto funcional do amendoim em relação à atividade antioxidante dos compostos fenólicos presentes nos cotilédones e películas, sendo um estímulo ao consumo de grãos com a película”, afirma Adna.
Ela acrescenta que seu estudo traz novas informações sobre a bioatividade de alguns genótipos de amendoim que ainda não haviam sido estudados no contexto abordado na pesquisa da ESALQ. “Os dados que obtivemos corroboram com os dados da literatura e podem ser usados para estimular o aumento do consumo usual dessa oleaginosa”, comenta.
Os compostos fenólicos são um grupo de antioxidantes não enzimáticos que combatem os radicais livres. São estruturas químicas presentes em baixas quantidades, em alimentos de origem vegetal. Essas substâncias podem exercer efeitos preventivos e até curativos em distúrbios fisiológicos no ser humano. São responsáveis pela cor dos alimentos, adstringência, aroma e estabilidade oxidativa.
A pesquisa foi realizada em parceria com a Embrapa Algodão e teve como objetivo investigar 14 genótipos de amendoim quanto ao potencial de sequestro de EROs e o conteúdo de compostos fenólicos. Os compostos fenólicos foram determinados por técnicas de alta acurácia e precisão.
A avaliação do genótipo da BR1 passou por uma técnica de digestão simulada in vitro. O título da tese é “Propriedades funcionais em genótipos de amendoim adaptados ao semiárido: capacidade de desativação de espécies reativas do oxigênio e acessibilidade de polifenóis”.
A pesquisa recebeu suporte financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. Pela consistência dos dados e importância do estudo para alimentação humana, a tese foi premiada pela ESALQ.
BR 1
A BR-1 é uma cultivar de amendoim de porte ereto, possuindo haste principal de 35 cm, arroxeada, com seis ramos laterais. As folhas são de tamanho médio e coloração verde-escuro característico. As flores possuem estandarte amarelo ouro com enervações de coloração vinho ao centro. As vagens são de tamanho médio, com pouca reticulação e bico quase ausente, possuindo de três a quatro sementes vermelhas, de tamanhos médios e arredondados.
Segundo a Embrapa, a cultivar possui potencial produtivo de 1.700 kg/ha de amendoim em casca, quando cultivado no período chuvoso, e de 3.800 kg/ha em condições irrigadas. A cultivar é indicada para plantio nas regiões de tabuleiros costeiros do Estado de Sergipe, na Zona da Mata, Agreste e Vales irrigados de Pernambuco, na região do Recôncavo Baiano e no Agreste e Brejo da Paraíba.Essa cultivar foi lançada oficialmente pela estatal do Ministério da Agricultura e Pecuária em 1993.