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Pesquisa mostra que vírus da zika reduz tumores no cérebro de cachorros (23 notícias)

Publicado em 25 de abril de 2021

Um estudo divulgado por pesquisadores da Universidade de São Paulo e que contou com a participação do virologista do Instituto Butantan Renato Astray, demonstrou que o zika vírus é capaz de combater um tipo de câncer cerebral em cachorros, que é muito semelhante ao que acomete seres humanos.

A pesquisa reforça o que os pesquisadores já haviam revelado em 2018, ao estudar o efeito do vírus em células cancerígenas humanas injetadas em camundongos: o zika causa esse efeito porque tem uma afinidade maior por células progenitoras, também conhecidas como células-tronco, que, em alguns casos são o tipo de células que formam tumores do sistema nervoso central.

“O efeito que o zika causa em crianças, a síndrome congênita, tem muito a ver com a infecção em células progenitoras neurais, que durante a gestação de um bebê são abundantes, pois elas estão se diferenciando e formando o sistema encefálico. Então isso levantou a questão: será que o vírus tem tanta predileção por um tipo de célula que acaba preservando as outras? Isso acabou sendo demonstrado neste trabalho ao usar o zika para esse tipo de câncer, que vem dessas células progenitoras”, explica Renato Astray, do Laboratório de Imunologia Viral.

O estudo acompanhou três cachorros com câncer cerebral em estágio avançado e sem possibilidade de procedimento cirúrgico para retirada. Sendo assim, o teste desta terapia foi oferecido aos donos como última alternativa. Os animais receberam doses pequenas do vírus e os resultados começaram a aparecer a partir do terceiro dia. Os tumores regrediram, reduziram de tamanho e os cachorros apresentaram uma melhora na qualidade de vida.

Outro ponto importante foi o fato de não ter sido observado uma infecção sistêmica pelo zika, ou seja, o vírus não causou outros efeitos além do encontrado nos tumores. Assim como em seres humanos e camundongos, foi encontrado uma carga viral nos testículos dos machos, reafirmando que o vírus pode ser transmitido sexualmente.

“Agora temos alguns aspectos para considerar. Nos cachorros está demonstrado que é seguro, isso quer dizer que eles não tiveram infecção sistêmica pelo zika e o que vimos foi a destruição das células tumorais. Para uso em humanos, que é o principal objetivo, será necessário fazer novos testes de segurança, ainda há um bom caminho pela frente”, ressalta Renato.

A contribuição da equipe do Butantan foi com o envio de vírus para uso no estudo. Em laboratório, os pesquisadores multiplicam o zika a partir da cultura de células. Após a multiplicação, os vírus são coletados, purificados e armazenados na quantidade necessária para o estudo. “É um trabalho que parece simples mas que precisa ser bem minucioso para termos um banco em boa qualidade e disponibilizar vírus que vão responder o que os pesquisadores querem”, explica.

De acordo com o virologista, a possibilidade de utilizar vírus para terapias contra alguns tipos de câncer é algo promissor. “O que se percebe é que muitos vírus têm grande propensão a se multiplicar em células de linhagem tumoral, porque nelas eles encontram receptores e não encontram resistência. Com base nessas características da biologia dos vírus e seus alvos no organismo é possível programar uma terapia antitumoral em uma célula específica que está sendo o problema”, finaliza.

O estudo, que conta com a participação de Renato Astray, foi realizado também por pesquisadores do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP), do Centro de Pesquisas do Genoma Humano e Células-Tronco (CEGH-CEL), um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) e foi apoiado pela FAPESP.

Créditos: Caroline Roque

Fonte: https://butantan.gov.br