SÃO CARLOS - "As árvores atuam como um dos elementos de conexão mais significativos das pessoas com a natureza", explica a bióloga Sabrina Mieko Viana, autora da tese "Percepção e quantificação das árvores na área urbana do município de São Carlos", defendida no programa de Pós-graduação em Recursos Florestais da Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" (Esalq). Segundo ela, o processo de urbanização não ocorre necessariamente em sintonia com um planejamento arbóreo.
"A frequente exclusão das árvores do cenário urbano ocorre devido à disputa com outros equipamentos e pode ser interpretada como um dos sintomas do afastamento e alienação de seus moradores do ambiente natural", frisa.
Na sua tese, a pesquisadora procurou compreender como as pessoas se relacionam com o ambiente e as árvores à sua volta. "Conhecer as causas e formas de se trabalhar para diferentes setores da população é tão relevante quanto o conhecimento sobre a estrutura e distribuição da arborização para o aprimoramento da sua gestão", diz Sabrina. Sob orientação do professor Demosténes Ferreira da Silva Filho, do Departamento de Ciências Florestais (LCF) da Esalq, o estudo buscou contribuir na ampliação do conhecimento sobre a quantificação, análise e aplicação de índices para avaliação da cobertura arbórea, tomando como modelo o município de São Carlos e a relação desta com a percepção de seus moradores sobre o tema.
Segundo a autora, que teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), nas etapas de quantificação, análise da distribuição da cobertura arbórea (CA) e aplicação do Índice de Floresta Urbana (IFU) foram utilizadas imagens do satélite Worldview 2, enquanto a percepção da população foi levantada em áreas com diferentes porcentagens de CA, com aplicação de 372 questionários estruturados e observação direta nos meses de abril e maio de 2012.
Os resultados indicaram que, embora a proporção da CA seja significativa para a totalidade da área urbana, é mal distribuída entre as regiões. "Os maiores valores tanto de CA como do IFU concentraram-se nas regiões norte e noroeste da cidade, enquanto os menores localizaram -se na região central e ao sul, onde estão localizados bairros mais abastados", comenta Sabrina, lembrando ainda que a análise da cobertura dentro de cada região indicou também o predomínio de árvores isoladas ou em pequenos grupos, com baixa conectividade entre estes.
A menor porcentagem de cobertura arbórea (4,88%) foi encontrado ao sul da cidade, no setor que engloba bairros populares e de baixa renda. Dos 44 setores analisados, só 10 possuem IFU acima de 1,0. Destes, 6 localizavam-se em bairros predominantemente residenciais, 4 com condomínios fechados e 2 em bairros abertos.
Quanto ao reconhecimento da população, as entrevistas revelaram que as pessoas identificam os benefícios proporcionados pelas árvores. "Contudo, aspectos como a sujeira, atribuídos a queda das folhas, problemas com as calçadas e a segurança, foram atribuídos pelos entrevistados como os aspectos negativos em relação às árvores na cidade".
Para minimizar essa rejeição, a bióloga diz que é importante sensibilizar a população e trabalhar questões sobre o valor que se tem dado as árvores quando comparadas a outras infraestruturas da cidade. "Além do resgate da percepção que a árvore é um elemento tão ou mais importante como outro na cidade, e acima de tudo, como mais um dos seres vivos que compõe o sistema da cidade, também é necessário que o poder público também seja cobrado e sensibilizado para o fato de que a destinação de verbas para a arborização é um investimento, com benefícios inclusive econômicos", conclui.