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Gazeta Mercantil

Pesquisa mineira cria a "super-soja (1 notícias)

Publicado em 22 de janeiro de 1996

Por André Lacerda - de Belo Horizonte
A partir de março, os produtores de soja da região central do País poderão contar com uma nova variedade da leguminosa. A Central de Experimentação, Pesquisa e Extensão do Triângulo Mineiro (Cepet), ligada à Universidade Federal de Viçosa, desenvolveu a soja "UFV-17" ou "Minas Gerais", que nos ensaios realizados até agora alcançou produtividades médias em torno de 3 mil quilos por hectare. Para que cheguem efetivamente ao mercado, as sementes ainda serão multiplicadas por empresas conveniadas à Cepet, o que deve consumir mais dois anos de trabalho. A nova variedade, que vem sendo pesquisada pela equipe da UFV desde 1986, tem como vantagens, além do ganho na produtividade, a resistência à doença do cancro-da-haste - uma das principais pragas da soja, ao lado do nematóide de cisto. Hoje no Estado de Minas Gerais apenas 20% das sementes recomendadas oficialmente são resistentes ao cancro. A "UFV-17" é uma variedade de ciclo semi-tardio, com duração de 127 dias. Cultivada na fase de ensaios em cinco municípios da região da Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, produziu em média 36% a mais do que variedades de mesmo ciclo plantadas naquelas áreas. "Os ganhos são altamente significativos, já que a partir de determinado patamar qualquer aumento de 5% é um grande avanço", comemora o diretor da Cepet, Sebastião Alípio de Brito. Em Capinópolis (MG), a produtividade média de quatro culturas ao longo dos últimos três anos foi de 2.996 quilos por hectare. Na localidade mineira de Rio Paranaíba, o resultado atingiu 3.281 quilos em cultivo realizado durante a safra 1994/95. A "UFV-17" é a segunda de uma série de três variedades resistentes ao cancro-da-haste a serem lançadas pela Cepet, sediada em Capinópolis, até setembro deste ano. A primeira delas foi a "UFV-16", de ciclo precoce, de 1 16 dias,e recomendada para regiões onde se realizam culturas de safrinha. O cancro, causado por um fungo que infecta o caule das plantas, está disseminado por culturas de soja em todo País. Segundo dados divulgados pela Cepet, a doença já causou prejuízos de cerca de R$ 300 milhões desde que se manifestou pela primeira vez no Brasil, durante a safra 1988/89. Além da resistência ao cancro, a nova variedade desenvolvida em Capinópolis não é afetada por outros problemas, como a pústula bacteriana, fogo selvagem e pela mancha olho-de-rã. A "UFV-17" foi desenvolvida para as áreas do Brasil Central compreendidas entre as latitudes 16 e 21. A variedade é resultante do cruzamento das linhagens "FT-12" ("Nissei") e "IAC-8": Embora testada em Minas em ensaios da rede oficial para lançamento de variedades, da qual fazem parte instituições como a Embrapa, Epamig e CNPq, a "UFV-17" não deve, por enquanto, se disseminar por outros estados. Isto porque, como a variedade ainda não passou por testes nessas unidades da federação, as propriedades que optarem por plantar a nova soja não terão acesso a financiamentos oficiais. A Cepet desenvolve atualmente o Projeto Soja, em que atua em parceria com empresas privadas produtoras de semente. Existem hoje outras dez variedades da leguminosa sendo avaliadas, cujos lançamentos estão previstos para acontecer até o ano 2000. Algumas das novas linhagens tentam tornar a soja um alimento mais palatável para os seres humanos. Em outros casos, briga-se para chegar a variedades resistentes ao nematóide de cisto. A SOJA MAIS SABOROSA ESTÁ SAINDO DO FORNO Está nascendo no Triângulo Mineiro uma nova variedade de soja que pode tornar a leguminosa tão bem sucedida nos pratos de comida quanto em relação ao seu desempenho protéico. A Central de Experimentação, Pesquisa e Extensão do Triângulo Mineiro (Cepet) realiza atualmente estudos de adaptação a solo e clima e multiplicação de sementes de uma variedade da qual foram eliminadas as substâncias responsáveis pelo gosto indigesto da soja. O lançamento da variedade está previsto para os próximos dois anos. Os pesquisadores tentam aproveitar a riqueza protéica da soja, que tem duas vezes mais proteína do que o feijão, por exemplo. "Quando estiver disponível, essa variedade poderá ressuscitar os programas de vacas mecânicas que produziam leite a partir da soja, que não prosperaram por causa do sabor de feijão cru da soja", diz o diretor do Cepet, Sebastião Alípio de Brito. Em fase de avaliação de comportamento também estão os estudos que visam desenvolver linhagens de soja resistentes ao nematóide de cisto. Nesse caso, o feito seria ainda mais valioso: não existe atualmente no País variedade que não seja passível de ser afetada pela praga. As pesquisas dos professores da universidade fazem parte do projeto Soja, que vem buscando adaptar variedades da cultura ao clima nacional, principalmente os do Brasil Central. Convênios junto a indústrias do setor alimentício, que garantem o repasse de verbas, vêm possibilitando à equipe da Cepet prosseguir nos testes. '"Hoje já é consenso entre o setor privado que é preciso fortalecer as instituições de pesquisa", comenta Brito.