Notícia

Correio Popular (Campinas, SP)

Pesquisa mapeia mecanismo da dengue

Publicado em 24 abril 2009

Um grupo de cientistas norte-americanos descobriu os fatores existentes no mosquito Aedes aegypti e em humanos que o vírus da dengue usa para se multiplicar após infectar os hospedeiros. Segundo informações da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), são dezenas de proteínas das quais o vírus depende para o seu desenvolvimento.

De acordo com o Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas do governo norte-americano, que financiou a pesquisa, a descoberta desse mecanismo pode levar ao desenvolvimento de drogas capazes de inibir um ou mais desses componentes, barrando a infecção e o desenvolvimento da doença.

Mariano Garcia-Blanco, da Universidade Duke, e colegas usaram um modelo mais conhecido, da mosca-da-fruta (Drosophila melanogaster), por suas semelhanças com o mosquito transmissor da dengue e pela disponibilidade de muitas ferramentas para determinar suas funções genéticas.

Os cientistas usaram uma técnica chamada de interferência de RNA para silenciar segmentos do genoma da drosófila e identificar de quais deles o vírus depende para crescer eficientemente. Encontraram 116 fatores genéticos, dos quais apenas cinco haviam sido descritos anteriormente. Dos 116, os pesquisadores verificaram que 42 têm correspondentes em humanos.

Em seguida, os pesquisadores usaram interferência de RNA e mosquitos vivos para testar se, ao silenciar alguns dos fatores, o vírus teria alguma redução na capacidade de infectar o tecido do intestino dos insetos. A resposta foi clara: observaram que o silenciamento reduzia grandemente a capacidade de o vírus se multiplicar no mosquito.

Segundo os autores do estudo, os resultados, embora preliminares, levantam a possibilidade de inibir propositalmente o crescimento do vírus em mosquitos. O que abre o caminho para, por exemplo, desenvolver um spray que possa ser usado não para matar os mosquitos, mas torná-los menos eficientes no transporte do vírus.

Como tais alternativas não atacariam o vírus diretamente, mas sim seu hospedeiro, o vírus teria menos oportunidade de desenvolver resistência a drogas.

A dengue, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), atinge entre 50 milhões e 100 milhões de pessoas a cada ano em mais de 100 países, com cerca de 20 mil mortes. Não há medicamentos específicos e os únicos tratamentos recomendados para a doença são a ingestão de líquidos, repouso e antitérmicos não esteróides para a febre.

O artigo Discovery of insect and human dengue virus host factors, de Mariano Garcia-Blanco e outros, pode ser lido por assinantes da revista Nature em www.nature.com. (Das agências Estado e Fapesp)

O NÚMERO: 50 mil CASOS de dengue foram registrados pela Secretaria de Saúde da Bahia do início do ano até 10 de abril