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Portal São José dos Campos

Pesquisa indica relação entre tontura persistente e ansiedade

Publicado em 12 janeiro 2015

O equilbrio, que permite aos humanos caminhar em terra firme ou enfrentar o mar revolto sobre uma prancha de surfe, depende de pequenas estruturas existentes no ouvido interno conhecidas como vestbulo. Junto com a cclea - estrutura responsvel pela audio -, o vestbulo forma o labirinto.

Uma srie de doenas que prejudicam a funo labirntica, algumas popularmente conhecidas como labirintite, pode interferir no controle do equilbrio e causar sintomas como tontura, que costumam ser controlados entre 1 e 3 meses com o tratamento adequado.

Em alguns pacientes, porm, a tontura persiste mesmo aps a doena labirntica de base ter sido compensada e sem qualquer outro motivo aparente. Uma nova pesquisa feita na Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo (FMUSP) sugere que a explicao para esses casos pode ser a atividade exacerbada de partes do sistema nervoso central relacionadas com ansiedade e medo.

"Exames de ressonncia magntica funcional indicam haver uma diferena fisiolgica no crebro desses pacientes. Embora as estruturas cerebrais sejam idnticas s do grupo controle, as vias relacionadas com ansiedade e medo ficam mais ativas que o normal quando submetidas a determinados estmulos", contou Roseli Saraiva Moreira Bittar, docente da FMUSP e coordenadora da pesquisa apoiada pela FAPESP.

Conforme explicou Bittar, nesses casos hoje classificados como tontura postural e perceptual persistente (TPPP), a doena labirntica funciona como um gatilho para um distrbio do equilbrio impossvel de ser diagnosticado e tratado pelos mtodos convencionais.

"Depois que esse gatilho acionado, a doena entra em moto-contnuo. Qualquer estmulo, seja motor, emocional ou situacional, pode ativar as vias de ansiedade e medo e causar tontura. Esse paciente sente-se tonto quando est em p, sentado ou deitado. Sente que est flutuando ou que vai cair. Nunca est bem e no melhora sem um tratamento psiquitrico especfico", disse Bittar.

Desvendando o crebro

A pesquisa ainda est em andamento no Hospital das Clnicas da FMUSP e conta com a participao do neurorradiologista Edson Amaro Junior e da ps-graduanda Eliane Von Sohsten. Tambm colabora o psiquiatra Jeffrey Staab, membro da Mayo Clinic, nos Estados Unidos.

Atualmente, os cientistas esto comparando mais detalhadamente os exames de ressonncia magntica funcional de portadores de TPPP com os de pacientes que se curaram da tontura aps o tratamento (grupo controle) para descobrir o que exatamente funciona de forma diferente no crebro.

A mostra inclui 16 mulheres entre 18 e 60 anos em cada grupo. Segundo explicou Bittar, foram selecionadas apenas destras, para que o funcionamento do crebro de todas as voluntrias pudesse ser mais facilmente comparado.

Foram excludas portadoras de outras doenas que poderiam afetar a funcionalidade do labirinto, como diabetes, hipertenso e distrbios de tireoide. Tambm foram excludas as voluntrias cujos exames de ressonncia revelaram alteraes na estrutura cerebral.

As voluntrias foram submetidas a uma srie de exames para comprovar que a doena labirntica de base estava de fato controlada, alm de testes para avaliar o perfil de equilbrio e questionrios psiquitricos usados no diagnstico dos transtornos de ansiedade e depresso.

Um dos estudos j concludos, que incluiu uma mostra de 81 voluntrios (ambos os sexos) e foi publicado no Brazilian Journal of Otorhinolaryngology, revelou que os portadores de TPPP apresentam um perfil considerado limtrofe para ansiedade e depresso.

"Embora eles no possam ser considerados doentes psiquitricos, so muito mais sensveis do que os pacientes do grupo controle. Apresentam um escore at seis vezes mais alto nos questionrios", contou Bittar.

Outro estudo em colaborao com Staab, que deve ser publicado em breve, indicou que portadores de TPPP tm um perfil de equilbrio diferente em relao ao grupo controle. Segundo Bittar, mesmo em situaes tranquilas do cotidiano, as mulheres avaliadas apresentaram um nvel de tenso muscular exagerado.

"Andam sobre o solo como se estivessem caminhando sobre uma viga estreita de salto alto. Mas reagem da mesma forma que o grupo controle em uma situao de real perigo de queda", disse a pesquisadora.

Embora ainda preliminares, os resultados da pesquisa j esto, segundo Bittar, promovendo uma importante mudana no tratamento de TPPP.

"O grande mrito foi promover a integrao das reas de otoneurologia e psiquiatria. Antes, nenhuma das duas especialidades sabia ao certo qual encaminhamento dar a esses casos. Os pacientes eram muitas vezes tratados com antidepressivos, mas apenas metade respondia. Hoje, posso dizer que mais de 90% de meus pacientes esto bem", disse Bittar.

Fonte: Agência Fapesp