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Dica do tio

Pesquisa indica que não há dose segura de agrotóxico

Publicado em 04 agosto 2019

Por Roberta Jansen | O Estado de S.Paulo

Uma anlise de dez agrotxicos de largo uso no Pas revela que os pesticidas so extremamente txicos ao meio ambiente e vida em qualquer concentrao – mesmo quando utilizados em dosagens equivalentes a at um trigsimo do recomendado pela Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria (Anvisa). Encomendado pelo Ministrio da Sade e realizado pelo Instituto Butant, o estudo comprova que no existe dose mnima totalmente no letal para os defensivos usados na agricultura brasileira.

“No existem quantidades seguras”, diz a imunologista Mnica Lopes-Ferreira, diretora do Laboratrio Especial de Toxinologia Aplicada, responsvel pela pesquisa. “Se (os agrotxicos) no matam, causam anomalias. Nenhum peixe testado se manteve saudvel.” A pesquisa foi originalmente encomendada pelo Ministrio da Sade Fundao Oswaldo Cruz (Fiocruz). Em gesto considerado corriqueiro entre institutos de pesquisa, a Fiocruz pediu ao Instituto Butant que realizasse o estudo, uma vez que tinha mais expertise nesse tipo de trabalho.

No Butant fica a Plataforma Zebrafish – que usa a metodologia considerada de referncia mundial para testar toxinas presentes na gua, com os peixes-zebra (Danio rerio). Eles so 70% similares geneticamente aos seres humanos, tm um ciclo de vida curto (fcil de acompanhar todos os estgios) e so transparentes ( possvel ver o que acontece em todo o organismo do animal em tempo real). O laboratrio pertence ao Centro de Toxinas, Resposta-Imune e Sinalizao Celular (CeTICS), apoiado pela Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de So Paulo (Fapesp).

De acordo com o pedido do Ministrio da Sade, os cientistas testaram a toxicidade de dez pesticidas largamente utilizados no Pas. So eles: abamectina, acefato, alfacipermetrina, bendiocarb, carbofurano, diazinon, etofenprox, glifosato, malathion e piripoxifem. As substncias so genricas, usadas em diversas formulaes comerciais.

Os pesquisadores testaram diferentes concentraes dos pesticidas, desde as doses mnimas indicadas at concentraes equivalentes a 1/30 dessas dosagens. As concentraes dos pesticidas foram diludas na gua de aqurios contendo ovas fertilizadas de peixes-zebra. Em seguida, em intervalos de 24, 48, 72 e 96 horas, os embries foram analisados no microscpio para avaliar se a exposio havia causado deformidades e tambm se tinha inviabilizado o desenvolvimento.

Testes. Cada substncia, em cada uma das dosagens determinadas, foi testada em trs aqurios diferentes, cada um com 20 embries – uma forma de triplicar resultados, garantindo acurcia. “Acompanhamos o desenvolvimento dos embries, verificando se apresentavam alteraes morfolgicas, se estavam desenvolvendo a coluna vertebral, os olhos, a boca, se o corao continuava batendo”, explicou. “E, aps o nascimento, tambm o nado dos peixinhos.”

Trs dos dez pesticidas analisados (glifosato, melathion e piriproxifem) causaram a morte de todos os embries de peixes em apenas 24 horas de exposio, independentemente da concentrao do produto utilizada. Esse espectro foi da dosagem mnima indicada, 0,66mg/ml, at 0,022mg/ml, que teoricamente deveria ter se mostrado inofensiva.

O glifosato , de longe, o defensivo mais usado na agricultura brasileira: representa um tero dos produtos utilizados.

Tambm considerado muito perigoso. A substncia relacionada, em outros estudos, mortandade de abelhas em todo o mundo. apontada pela Organizao Mundial de Sade (OMS) como potencialmente cancergena para mamferos e seres humanos. O uso do glifosato proibido na ustria e ser banido na Frana at 2022.

Os outros sete pesticidas analisados (abamectina, acefato, alfacipermetrina, bendiocarb, carbofurano, diazinon, etofenprox) causaram mortes de peixes em maior ou menor porcentagem, em todas as concentraes testadas. E mesmo entre os que sobreviveram “muitos apresentavam padro de nado alterado que decorre da malformao das nadadeiras ou que podem sinalizar problemas neuromotores decorrentes da exposio ao veneno”.

Indícios

Os resultados obtidos nos peixes, segundo os cientistas, so um forte indcio da toxicidade dos produtos ao meio ambiente. Eles tambm apontam que pode haver danos aos seres humanos. “Nunca poderemos dizer que ser igual (ao que foi observado nos peixes)”, afirmou a pesquisadora. “Mas, como geneticamente somos 70% iguais a esses animais, muito alta a probabilidade de que a exposio aos agrotxicos nos cause problemas.”

De qualquer forma, sustenta a pesquisadora, o estudo um importante alerta. “Essas substncias podem causar srios problemas aos trabalhadores que as manipulam e ao ecossistema como um todo”, disse. “Conforme o agrotxico borrifado nas verduras e nas frutas, ele cai no solo, na gua, contamina todos os animais que esto ali e tambm o homem que se alimenta desses animais e desses vegetais. uma cadeia.”

Responsvel pelo Atlas Geografia dos Agrotxicos no Brasil, Larissa Mies Bombardi, do Departamento de Geografia da Universidade de So Paulo (USP), concorda com a colega. Para ela, os peixes funcionam como sentinelas, apontando um problema maior. ” o mesmo caso das abelhas, dos polinizadores”, afirmou. “Os sentinelas revelam que algo maior est acontecendo, algo que vai alm daquela espcie.”

Pesquisador de Sade Pblica da Fiocruz, Luis Claudio Meirelles ocupou, por mais de uma dcada, a gerncia geral de toxicologia da Anvisa. Segundo ele, a situao atual do Pas no que afirma respeito ao uso dos defensivos agrcolas preocupante. “Somos campees no uso de agrotxicos no mundo e dispomos de uma estrutura de controle e vigilncia muito aqum dos volumes utilizados e dos impactos provocados”, afirma.

“Alm disso, os investimentos em pesquisa so muito baixos e, nos ltimos tempos, tivemos uma liberao absurda de produtos, alm de uma nova normatizao para classificao e rotulagem de agrotxicos. Socialmente, o Pas est perdendo. Estamos no caminho contrrio do resto do mundo”, diz Meirelles.

3 perguntas para Leonardo Fernandes Fraceto, professor da Unesp de Sorocaba

1. O que aconteceria se o uso dessas dez substncias testadas pelo Instituto Butant fosse proibido?

No possvel banir esses dez produtos. A minha viso que no h como produzir alimentos para suprir o que o mundo precisa sem usar molculas e formas de controle de pragas. A questo a toxicidade relacionada concentrao usada e o tempo de exposio.

2. A concentrao e o tempo de exposio no so levados em conta?

Teoricamente, se as indicaes de uso forem seguidas, no deveria haver problemas. Mas a questo que est trazendo problemas. Temos resduos, contaminao da gua, uso maior do que o devido, enfim…

3. E qual seria a solução?

Acho que o grande erro da agricultura hoje querer soluo nica, uma bala de prata. No vejo como resolver esse problema com uma nica soluo. Tem de haver uma combinao de estratgias. Porque existem muitas estratgias: controle biolgico de pragas, molculas sintticas, pesticidas de origem natural, leos essenciais, formas de manejo de culturas, formas de monitoramento de plantaes para checar os nveis de infestao. preciso fazer associaes, ter opes mais inteligentes do que pulverizar uma nica substncia em concentraes maiores que as recomendadas. Ou vamos continuar a ter problemas.

Ministrio e Anvisa afirmam no ter visto dados

O Ministrio da Sade confirmou que “encomendou a pesquisa Fiocruz no fim de 2017”, mas destacou que no recebeu o estudo. “No que cabe ao tema dos agrotxicos, o levantamento teve incio em 2019 e, por isso, a pasta ainda no tem como compartilhar nem comentar os resultados.”

A Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria (Anvisa) informou que tambm no recebeu a pesquisa e, por isso, no seria possvel “avaliar suas concluses ou o peso das evidncias”.

A agncia esclareceu, no entanto, que acompanha todos os dados novos sobre produtos agrotxicos e as novas evidncias cientficas so avaliadas. “Os produtos agrotxicos so submetidos a um processo de reavaliao que consiste na reviso dos parmetros de segurana luz de novos dados e conhecimentos”, informou.

O rgo federal lembrou que esse procedimento necessrio porque, diferentemente do que acontece com outros produtos, o registro dos defensivos agrcolas no tem tempo de validade. A Anvisa informou ainda que, dos dez produtos citados, o carbofurano foi reavaliado em 2017 e est proibido. Disse ainda que o glifosato est em processo de reavaliao.

Para lembrar

A Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria (Anvisa) liberou este ano 290 agrotxicos. Pelo ritmo das liberaes, a tendncia de que seja batido o recorde de 2018, quando o governo de Michel Temer autorizou a comercializao de 450 substncias. A maioria no propriamente de novos produtos, mas sim de novas formulaes para substncias anteriormente liberadas, diz a Anvisa.

Embora aprovadas pelas regras brasileiras e consideradas seguras quando manuseadas corretamente e nas doses indicadas, muitas so proibidas nos EUA e na Europa. Ms passado, a Anvisa tambm fez reclassificao e mudou a rotulagem. Segundo a agncia, essa deciso visa a seguir um padro internacional. Porm, como alertaram cientistas, a nova classificao reduz significativamente o nmero de defensivos categorizados como “extremamente txicos”.

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